Mesmo sem nunca ter sido uma "ave nocturna", era normal que no começo dos anos 1980, com vinte anos, sentisse curiosidade em visitar e entrar na noite lisboeta. Era o que acontecia quase sempre à quinta-feira (gostávamos de fugir das confusões de fim de semana).
Felizmente tinha dois ou três amigos que tinham "livre-trânsito" nas principais casas nocturnas da Capital. Quando saía com eles sabia que não precisava de estar filas, muito menos correr o risco de ser barrado à entrada do "Frágil", do "Trumps", do "Kremlin", da "Lontra" ou do "Alcântara-Mar". Mas também descobríamos lugares completamente diferentes, entre as quatro e as seis da manhã (enquanto não chegava a hora da primeira barca que nos levava para o outro lado do rio...).
O mais curioso, é não me recordar muito desses lugares mais dançantes (o "Trumps" é a excepção que confirma a regra, por ser completamente diferente dos outros espaços...). No entanto houve outros espaços que me ficaram gravados, por serem menos barulhentos e mais castiços. Como a "Mascote da Atalaia", no Bairro Alto, onde se cantava o "fado vadio" de uma forma completamente improvisada. Ou o "Bar das Velhas" (não era este o nome, ficava numa das ruelas de Santa Catarina e era gerido por duas irmãs, mulheres bem maduras...) Passo algumas vezes pela sua rua e sei que agora é outra coisa, ao contrário da "Mascote", que continua agarrada ao fado, embora se tenha modernizado e tenha pouco da tasca desse tempo.
O que nunca mais consegui encontrar (e passo inúmeras vezes pela Mouraria...) foi a taberna, onde numa noite, desses já longínquos anos 80, tive a felicidade de ouvir cantar um dos grandes fadistas lisboetas, Fernando Maurício.
Mal ele começou a cantar a sua "Igreja de Santo Estevão", naquela tasca repleta de gente, apenas a dois ou três metros de mim, arrepiei-me de imediato. Acho que nunca mais voltei a sentir nada assim, foi como se a sua voz entrasse dentro de mim. E quando acabou de cantar, agradeceu os aplausos e disse estar muito feliz por ver por ali tantos jovens, presos ao fado, olhando para onde eu estava com o meu grupo de amigos.
Apesar de se "vender" a Mouraria de hoje como um lugar perigoso, não sinto qualquer animosidade, quando passo naquelas ruas, mesmo nas que cheiram mais a caril e a chamuças...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
Bom dia
ResponderEliminarDeste texto o que me chamou mais a atenção foi o fado do Fernando Maurício "Igreja de Santo Estevão" que adoro ouvir e até ás vezes cantar quando vou fazer um pouco de Karaoke, já que de Lisboa apenas tenho recordações de locais por onde trabalhei em cargas e descargas mais propriamente de embalagens de cartão.
JR
Era um verdadeiro fadista de Lisboa, dos bairros, e com grande qualidade, Joaquim.
EliminarGosto muito desse fado!
ResponderEliminarAbraço
É o fado que tem a sua cara, Rosa.
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