terça-feira, agosto 22, 2023

Quando a Beleza Feminina se juntava à Liberdade...


Quando se fala das mulheres belas dos anos cinquenta e sessenta, quem frequentava os cafés de então não fala de nenhuma modelo, bailarina ou misse famosa.

Fala sim de uma Natália Correia, uma Vera Lagoa ou uma Isabel da Nóbrega. É muito provável que elas também parassem o trânsito, mas a sua beleza normalmente aparece ligada à liberdade, à transgressão e até à independência, pelo menos em relação ao mundo masculino.

E por isso mesmo, foram elas que ficaram para a história, graças aos registos de alguma intelectualidade, que mesmo que fosse uma ou outra vez ao teatro do Parque Mayer, era incapaz de realçar a beleza de qualquer corista, que se orgulhava do seu corpo, que exibia para lá das curvas, sem falar dos seus olhares de serpente, que encantavam qualquer um às primeiras e às segundas.

A Natália, a Maria Armanda ou a Isabel, além de se apresentarem vestidas segundo os padrões da moda, eram meninas para se sentarem em qualquer café, puxarem do seu cigarro e ficarem por ali, a falar de tudo e de mais alguma coisa, sem qualquer tipo de prurido, rodeadas de uma corte de homens que as bajulavam. 

E isso provocava e deslumbrava quem assistisse a este espectáculo...

Estamos a falar de um Portugal muito diferente do dos nossos dias, em que os castanhos, os cinzentos e os pretos predominam nas vestes masculinas e femininas. Oitenta por cento das mulheres não se maquilhavam (a percentagem ainda deve ser mais alta...), não tinham dinheiro para ir ao cabeleireiro todas as semanas, muito menos para vestirem as cores da moda, de qualquer estação...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


4 comentários:

  1. Comecei a ler e pensei que a maior parte dos homens deviam ter medo destas três mulheres, por gostarem tanto da rua e das coisas boas da vida, Luís.

    Iris

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    1. Tinham de certeza, Iris. :)

      Até deviam tossir do fumo dos seus cigarros. :)

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  2. Nos anos 60/70 poderíamos juntar,se elas permitissem, "As Três Marias". Beleza,Liberdade(o fascismo morrente fê-las pagar por isso). Na minha subjectividade sublinho a beleza da Maria Teresa Horta. E mais haveria.
    Em pós-escrito refira-se já terem falecido Isabel Barreno e Velho da Costa.

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    1. Haveria mais mulheres que poderiam ser referidas, José, todas as que enfrentavam o regime, com a sua liberdade pessoal.

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