quinta-feira, maio 28, 2020

O Jornalista não é Juiz nem Polícia


Quem já fez jornalismo sabe que a tentação de nos metermos dentro da notícia, acaba sempre por aparecer, mais tarde ou mais cedo. É por isso que é muito importante algo que agora está muito em voga, o "distanciamento".

Tal como para os críticos é bom não conhecer os escritores, os pintores ou encenadores, para o jornalista, também é importante ser um mero observador, para relatar essa coisa simples de: o quê, quando e onde (a explicação do porquê e do como, não é menos importante, mas acaba sempre por ser um "pau de dois bicos"...).

Embora seja exigida ao jornalista a mesma veracidade e imparcialidade que se exige ao juiz e ao polícia, este à partida é mais livre e menos pressionável, porque quando faz uma notícia deve-se focar essencialmente nos factos, no que aconteceu, sem ter como objectivo "acusar" ou "prender" alguém. Deve ouvir sempre as "duas partes" de qualquer questão, sem emitir qualquer juízo de valor. Ou seja, pode, e deve, dar voz ao "bandido", que nem sempre é o "culpado" de todos os males do mundo...

Para mim esta é que é a função do jornalista. É por isso que não suporto o "jornalismo justiceiro" e o "jornalismo pistoleiro".

(Fotografia de Luís Eme - Almada)

13 comentários:

  1. Tenho um amigo que foi jornalista e que me disse mais ou menos o mesmo. Concordei com ele e admiro-o muito pela forma como escreve e pela pessoa que é.

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    1. As pessoas fazem tudo pelas audiências e pela estrela de "famosos", Gábi...

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  2. É isso mesmo! Mas assim destes, como está aí plasmado, há poucos... É uma pena.

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    1. É muito complicado sobreviver hoje no jornalismo, cumprindo as regras jornalísticas, Graça...

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  3. Este país está transformado num coito de amigos que protegem amigos (em todos os sectores) de familiares que nomeiam familiares, quais vampiros, tomaram conta disto tudo.

    Quem mexe com os interesses instalados está, à partida, condenado.

    E a justiça? Viram a polícia ser recebida a tiro pela ciganada no bairro qualquer coisa? Viram aquele assalto em Cascais (a uma lojeca de um desgraçado pobretanas) nas barbas do Presidente da República? Viram o facalhão que o preto empunhava? Viram a brutalidade do assaltante perante o lojista? Mas em que país é que isto se está a transformar?

    Não sejamos anjinhos nem poderemos continuar a ser sonhadores porque o sonho acabou e está a transformar-se em pesadelo.

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    1. Nunca nos libertamos do "24 de Abril", Severino.

      Os juízes continuaram a ser os mesmos dos tribunais plenários. Os empresários que eram donos do país, começaram a regressar no começo de 1976, para ocupar os mesmos cargos e resgatarem os seus impérios na banca e na indústria. E poderia continuar, por aí fora.

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  4. Às vezes basta um certo tom na voz para se perder a tal imparcialidade.
    Na escrita é mais fácil mas mesmo assim há poucos a seguirem as regras.

    Abraço

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    1. Penso que o problema não está no tom, Rosa, está mais no conteúdo, na selecção de notícias, etc.

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  5. Cada vez menos imparcial e menos isento.
    Abraço, saúde e bom domingo

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    1. Sim, a dependência económica rouba sempre a liberdade e a isenção, Elvira...

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