quarta-feira, fevereiro 05, 2020

O "Contracenso" que é Esta Lisboa


Nunca pensei viver em Lisboa. E nunca coloquei a questão apenas por razões económicas, a minha preocupação maior foi a qualidade de vida.

Claro que falo de uma Capital muito diferente dos nossos dias, estou a recuar até à segunda metade dos anos oitenta do século passado (uma cidade mais feia e degradada, e também com piores meios de transportes...).

Hoje é tudo muito diferente, para melhor, pelo menos aparentemente...

Mas há um problema, que se vai acentuando, cada vez mais. Os residentes fixos são cada vez menos importantes para a economia local (e também nacional...), pelo que muitas das mudanças realizadas (especialmente no coração de Lisboa), são mais direccionadas para os turistas que para os lisboetas.

Não queria falar em "ganância", mas é o que a "febre do dinheiro" mais produz por metro quadrado, desde a mercearia do bairro ao hotel mais chique da Cidade. Infelizmente os políticos estão na mesma diapasão, estão a abrir a cidade, com o objectivo de conseguir receber ainda mais turistas, diariamente, porque isso significa mais receitas... e os residentes só têm duas coisas a fazer: aguentam-se ou mudam de ares (infelizmente é isto que mais tem acontecido, embora nem sempre isso aconteça de forma voluntária...).

É por isso que eu digo, que é um contracenso, esta Lisboa... 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

8 comentários:

  1. E o que é, na óptica do Luís, um "contracenso"...ser contra a censura?
    Mas...o Luís está a desempenhar o papel de censor. Se for assim, já eu digo que isso é mais um contra-senso.

    Lisboa, enquanto Capital de um pequeno e belo país, situado à beira-mar, com um clima que atrai viajantes/turistas dos quatro cantos do mundo, tem de ter espaço para os albergar.
    Os residentes fixos, há muito deixaram de o ser, para dar lugar a escritórios, Bancos, hotéis, restaurantes e apartamentos destinados a curtas estadias. Abalaram para os arrabaldes, como nos anos sessenta, os que vieram do Alentejo e das Beiras.

    E quem gostaria de viver no meio do burburinho das multidões? Das luzes, da boémia até às tantas? :)

    Adorei a foto e o texto veio muito a propósito.
    As minhas palavras?...Olhe, já voaram para junto das gaivotas do Cais das Colunas! :)

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    1. Eu não estou a ser censor de coisa nenhuma, Janita, estou a opinar sobre um problema real.

      É importante percebermos que o Centro Histórico de Lisboa não se reduz à Baixa (escrevo sobre isso hoje...), há também os bairros das colinas que a rodeiam.

      E nestes bairros a maioria dos seus habitantes eram lisboetas, nascidos e criados por ali, mesmo que fossem pedreiros, canalizadores,empregados de balcão, eram todos "fadistas de coração"... Quem veio das Beiras e do Alentejo ficou maioritariamente em Almada e na Amadora.

      Em relação ao "burburinho", o Bairro Alto e Alfama sempre foram boémios e sempre tiveram habitantes...

      Há várias Lisboas, Janita.

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    2. Creio que, no meu comentário, não afinei pelo diapasão do Luís. :)
      Na verdade, eu referia-me, exclusivamente, à Baixa de Lisboa e zonas limítrofes.

      E Lisboa, não é somente a Baixa pombalina.

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    3. Eu percebi, por isso é que esclareci. :)

      Se por um lado, é extremamente positiva a recuperação urbana (cada vez há menos prédios a ameaçar cair...), por outro, é um erro tremendo afastar as pessoas que vivem o ano inteiro na Cidade. Rouba a alma a Lisboa e deixa-a completamente descaracterizada.

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  2. Tenho um amigo, nascido em Lisboa e que lá viveu por sessenta anos e que lá gostaria de morrer. O senhoria, fez-lhe a vida negra durante quase cinco anos até que ele não aguentou mais e mudou-se
    para Almada. E porque o senhorio lhe fez isso. Porque sob pressão conseguiu correr com todos os inquilinos, excepto ele. E o senhorio queria deitar o prédio abaixo e construir um hotel.
    Abraço

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    1. Isso passou-se (e passa-se...) com milhares de pessoas, em todos os lugares apetecíveis de Lisboa.

      E quando somos nós os donos da casa, fazem-nos propostas milionárias, como fizeram com uma amiga minha em Campo de Ourique.

      Esquecem-se que um dia os turistas vão começar a escassear e depois descobrem uma cidade "deserta"...

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  3. Concordo quando fala em ganância. É demais e os comerciantes perderam a noção! A ultima vez que estive em Lisboa, recusei comprar uma garrafa de água devido ao balúrdio que pediam! A água é um bem essencial à vida, quem tem sede precisa de beber água, há pessoas que ficam desidratas e acho uma desconsideração, sabendo o preço que os cafés compram aos fornecedores espetarem a unha a algo que é uma necessidade e não um bem secundário!

    Desculpa se me desviei do seu tema e propósito, mas foi o que me veio à mente, pois não compreendo porque razão o turismo contribui para o aumento dos preços! Por que razão as pessoas não ganham o que é justo?

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    1. Esse é um pequeno pormenor, que faz toda a diferença, Micaela.

      Não te desviaste nada, todos querem ficar com a "galinha dos ovos de ouro"...

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