domingo, novembro 10, 2019

«Em que vos posso ser útil?»


Tirei este título, "Em que vos posso ser útil?", de um artigo de 2006, que se reporta à visita de Luís Miguel Cintra, à reitoria da Universidade de Letras de Lisboa, no âmbito do Fatal (Festival Anual de Teatro Académico), que não sei se ainda se faz (a "troika" conseguiu acabar com demasiados festivais de teatro e cinema de Norte a Sul)...

Pensei nele porque há dias cruzei-me com uma professora amiga que me desafiou para visitar a sua escola e ir falar sobre fotografia aos alunos, eu que finjo que não sou "fotógrafo" (e não sou, sempre que posso fujo da técnica, dos truques e segredos, refugiando-me apenas no que os meus olhos querem ver e descobrir...), porque pertenço mais ao mundo das palavras. 

Mas depois pensei que podia falar das duas coisas, de fotografia e de palavras (palavras de grandes fotógrafos...), puxando pela criatividade e pelo pensamento autónomo dos alunos, que como se diz por aí, eles usam menos do que deviam, porque a coisa mais fácil sempre foi seguir o "rebanho", especialmente na adolescência.

Mas não se pense que são apenas os jovens que evitam pensar pela sua cabeça, os adultos gostam de fazer o mesmo. Como de costume, a descoberta do bebé por um "sem-abrigo", filho de uma jovem "sem-abrigo", deu espaço para todos os disparates (o "facebook", pelo que me contam, continua a ser rei e senhor da "ignorância", da "esperteza saloia", e pior de tudo, do "insulto fácil", mas isso são outros "quinhentinhos"...).

Desde a "estátua" que querem erguer ao "sem-abrigo" (desconfio que ele agradecia mais um quarto e uma mesada...) ao linchamento público que querem fazer à "rameira" e "drogada" (só falta fazerem o que ainda se faz pelo Oriente, acabarem com a sua vida à "pedrada"...).

Tudo isto para dizer, que faz tanta falta neste país (e no Mundo...), as pessoas pensarem pela sua cabeça. Um bocado de cepticismo num fez mal nenhum ao mundo... E isso tem de começar nas escolas, os jovens têm de ser educados a pensar pela sua cabeça, a não a acreditar às primeiras, em tudo o que lêem...

Sei que falar disto na escola, é mais importante que falar de fotografia ou de livros...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

12 comentários:

  1. Sammy, o paquete10/11/19, 12:35

    E quando temos um Presidente da República que alinha em todos estes folclores, eu que sempre tentei pensar pela minha cabeça, páro e medito no que terei para dizer, e salta-me uma coisa assim: «este homem é perigoso!...»
    Não puxa pela pistola quando ouve falar em cultura, mas tem uns tiques mediáticos que me assustam.
    Retenho dois pormenores do seu muito didáctico post:
    Pensam numa estátua para o sem-abrigo, «desconfio que ele agradecia mais um quarto e uma mesada».
    Quanto ao «linchamento público que querem fazer à “rameira” e “drogada”, saltou-me de imediato uma canção do Chico Buarque na «Ópera do Malandro»:
    «Joga pedra na Geni
    Joga bosta na Geni
    Ela é feita para apanhar
    Ela é boa de cuspir
    Ela dá pra qualquer um
    Maldita Geni.»

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    1. O Presidente é "flor deste tempo", deve adorar esta época em que tudo muda, de um momento para o outro, às vezes apenas em horas, inclusive as ideias, Sammy.

      Não foi por acaso que o antigo líder do seu partido lhe chamou "cata-vento"...

      Tenho pena que vá tudo atrás deste tempo, que as pessoas tenham cada vez mais "preguiça" de pensar pela sua própria cabeça...

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  2. Bom dia, Luis Eme.
    Não é que não concorde com o seu texto, que concordo. Mas penso ser tempo de parar de falar "numa faixa etária", nos "jovens", porque, na realidade, o que se vê e lê por aí são os mais velhos - já com muita bagagem de vida, já com muito caminho percorrido - com 40/50/60 ou mais anos, nas redes sociais, com comportamentos completamente inaceitáveis. Quem os educa "a eles"?

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    1. Té, apenas falei nos jovens e na escola, porque esta é o lugar indicado para se ensinar a ter um pensamento autónomo, a ter ideias próprias. E os jovens aprendem mais facilmente que as pessoas com mais idade (muitas delas "sabem tudo" e acham que não precisam de aprender mais nada...).

      (E quando falei no "facebook" não estava a falar de jovens...)

      Porque o mundo caminha para que não se pare para pensar, nos nossos gestos mais simples... Tal é a velocidade de tudo o que nos rodeia.

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    2. Ó Luís é na escola mas deveria ser, penso eu, sobretudo em casa e aí a falha é rotunda é absolutamente inaceitável.

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    3. A proximidade familiar (e a protecção...), fazem com que nem sempre se "trabalhe" a autonomia como deve ser, Severino.

      Agora a escola, pode e deve, ser, um melhor campo de ensaios.

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  3. E uma vez que eles são ou deveriam ser "the go-between" assim também levariam a família a pensar de forma diferente.

    Abraço

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  4. Há pessoas que confundem tudo… Fazes bem em chamar a atenção para estes problemas que se levantam nas redes sociais e não só…
    Uma boa semana, Luís.
    Um beijo.

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    1. Sim, a preguiça de se pensar ajuda sobretudo a confundir, Graça.

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  5. O Luís é um grande fotógrafo, pelo menos tenho visto aqui no Largo belíssimas fotografias. E felicito-o, sinceramente, por esse dom.

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