quarta-feira, outubro 15, 2008

O Poeta do Largo

Manuel da Fonseca, um escritor e poeta de todos os largos do mundo, é recordado hoje no "largo da memória", porque nasceu em Cerromaior, num já longínquo 15 de Outubro, em 1911.

Escolhi uma parte do seu poema "Maltês" (III), desta antologia que ilustra o "post", para homenagear este grande contador de histórias do Sul:

Gente chegou às janelas,
saíram homens à rua:
- as mães chamaram os filhos,
bateram portas fechadas!
E eu, o desconhecido,
o vagabundo rasgado,
entrei o largo da vila
entre dez guardas armados;
- mais temido e mais amado
que o deus a que todos rezam.
- Que nunca mulher alguma
Se rendeu mais a um homem
Que a moça do rosto claro
Ao cruzar os olhos pretos
Com o meu olhar de rei!

18 comentários:

  1. Excelente.
    E como são belíssimas as histórias do Sul...

    Beijos, Luís M.

    ResponderEliminar
  2. Bonita é esta homenagem ao Manuel da Fonseca, tão arredado de leituras e da net... digo eu...

    Beijinho, Luís

    ResponderEliminar
  3. Gosto dos contos dele. São um belo retrato desse Sul de que falas.

    (E em relação ao post aqui de baixo...nunca mais vou olhar para o Eduardo Lourenço da mesma forma. Medo.)

    ResponderEliminar
  4. E eu gosto tanto dele! Reler os seus escritos é sempre um prazer.

    Bem hajas!

    ResponderEliminar
  5. Era mesmo o Poeta do Largo...
    Em vários poemas e textos em prosa nos fala de largos alentejanos!

    Abraço

    ResponderEliminar
  6. Na Linha de Cabotagem há algo para si.

    ResponderEliminar
  7. Manuel da Fonseca: um poeta que eu adoro e que me faz bem.
    Um abraço Luís.

    ResponderEliminar
  8. e eu confesso uma quase total ignorãncia sobre a sua obra. :(((

    bjs Luís

    ResponderEliminar
  9. pois são, M. Maria Maio...

    ResponderEliminar
  10. sim, quase esquecido, Maria...

    ResponderEliminar
  11. também gosto muito, Sophiamar.

    ResponderEliminar
  12. sim, o tio Manel adorava largos e as conversas que inudavam os largos, Rosa...

    ResponderEliminar
  13. devias ler, Maré.

    na adolescência adorei ler os seus contos do livro "Fogo e as Cinzas" e o "Cerromaior"...

    ResponderEliminar
  14. deixo_te com um excerto do meu poema preferido de manuel da fonseca "domingo"

    e a versão dita por mário viegas? do outro mundo...até a alma chora.



    Quando chega domingo,
    faço tenção de todas as coisas mais belas
    que um homem pode fazer na vida.

    Há quem vá para o pé das águas
    deitar-se na areia e não pensar...
    E há os que vão para o campo
    cheios de grandes sentimentos bucólicos
    porque leram, de véspera, no boletim do jornal:
    «Bom tempo para amanhã»...
    Mas uma maioria sai para as ruas pedindo,
    pois nesse dia
    aqueles que passeiam com a mulher e os filhos
    são mais generosos.

    Um rapaz que era pintor
    não disse nada a ninguém
    e escolheu o domingo para se matar.
    Ainda hoje a família e os amigos
    andam pensando porque seria.
    Só não relacionam que se matou num domingo!

    Mariazinha Santos
    (aquela que um dia se quis entregar,
    que era o que a família desejava,
    para que o seu futuro ficasse resolvido),
    Mariazinha Santos
    quando chega domingo,
    vai com uma amiga para o cinema.
    Deixa que lhe apalpem as coxas
    e abafa os suspiros mordendo um lencinho que sua mãe lhe bordou,
    quando ela era ainda muito menina...

    Para eu contar isto
    é que conheço todas as horas que fazem um dia de domingo!
    À hora negra das noites frias e longas
    sei duma hora numa escada
    onde uma velha põe sua neta
    e vem sorrir aos homens que passam!
    E a costureirinha mais honesta que eu namorei
    vendeu a virgindade num domingo
    — porque é o dia em que estão fechadas as casas de penhores!

    Há mais amargura nisto
    que em toda a História das Guerras.

    ResponderEliminar
  15. é um poema lindo, Ivone...

    ResponderEliminar