O café Bailote era o verdadeiro Café Central de Albufeira, mesas de tampo de mármore, cadeiras de bunho, bilhar ao meio da sala, café de saco, aguardente de medonho e, mais tarde, a pintura cubista do seu dono, nas paredes.
Era o tempo em que a Vila cabia entre o Rossio e a Praia dos Pescadores e as únicas intervenções salientes eram o túnel de acesso à praia, a colónia de férias da FNAT, quatro pisos em cima da Praia dos Alemães, e o Hotel Sol e Mar encravado na falésia a que comeu mais de cem metros, para ver o mar das janelas. Eram ainda poucas, mas já prometiam!
Mestre Bailote descobriu a pintura, depois dos cinquenta anos e, a partir de então, compôs primorosamente a figura de artista “soixantard”, cabelo comprido, vestuário “casual chic”, ar distraído, pele morena bronzeada, amor em várias línguas e ninguém como ele soube retractar o casario de Albufeira, na simplicidade das suas linhas depuradas à luz velada da noite e, para o conseguir, nunca precisou mais de quatro cores, o azul, o negro, o branco e o ocre, e alguns dos seus tons.
Pessoa de poucas falas e quase sempre alheado do funcionamento do café, onde figurava como o mais chique dos clientes, nunca ousei pedir um café a mestre Bailote que, para isso, lá estava o João, mas perguntei-lhe várias vezes pelos seus quadros que, infelizmente, nunca pude comprar.
Numas férias de Verão soube-se que o Mestre resolvera deixar-nos e, passado algum tempo, o seu café entrou em cruel decadência, até que fechou portas e se deixou entaipar para uma intervenção radical que durou quase uma década.
Reabriu em 2006 como Ristorante Italiano Bailote, assim mesmo, o pé direito por metade, escuro, claustrofóbico, muitos cromados no balcão, mobiliário de plástico e este nome estrangeiro na fachada antes do apelido do velho dono que conservaram talvez por soar a italiano.
Do velho café, para além do apelido, sobraram dois ou três quadros na parede que cada vez menos pessoas saberão relacionar com Mestre, pintor de mérito e pioneiro da hotelaria em Albufeira.
Era o tempo em que a Vila cabia entre o Rossio e a Praia dos Pescadores e as únicas intervenções salientes eram o túnel de acesso à praia, a colónia de férias da FNAT, quatro pisos em cima da Praia dos Alemães, e o Hotel Sol e Mar encravado na falésia a que comeu mais de cem metros, para ver o mar das janelas. Eram ainda poucas, mas já prometiam!
Mestre Bailote descobriu a pintura, depois dos cinquenta anos e, a partir de então, compôs primorosamente a figura de artista “soixantard”, cabelo comprido, vestuário “casual chic”, ar distraído, pele morena bronzeada, amor em várias línguas e ninguém como ele soube retractar o casario de Albufeira, na simplicidade das suas linhas depuradas à luz velada da noite e, para o conseguir, nunca precisou mais de quatro cores, o azul, o negro, o branco e o ocre, e alguns dos seus tons.
Pessoa de poucas falas e quase sempre alheado do funcionamento do café, onde figurava como o mais chique dos clientes, nunca ousei pedir um café a mestre Bailote que, para isso, lá estava o João, mas perguntei-lhe várias vezes pelos seus quadros que, infelizmente, nunca pude comprar.
Numas férias de Verão soube-se que o Mestre resolvera deixar-nos e, passado algum tempo, o seu café entrou em cruel decadência, até que fechou portas e se deixou entaipar para uma intervenção radical que durou quase uma década.
Reabriu em 2006 como Ristorante Italiano Bailote, assim mesmo, o pé direito por metade, escuro, claustrofóbico, muitos cromados no balcão, mobiliário de plástico e este nome estrangeiro na fachada antes do apelido do velho dono que conservaram talvez por soar a italiano.
Do velho café, para além do apelido, sobraram dois ou três quadros na parede que cada vez menos pessoas saberão relacionar com Mestre, pintor de mérito e pioneiro da hotelaria em Albufeira.
Este texto de Joaquim Nascimento está ilustrado com o óleo "As Pombas" de Picasso.
Eu andei nos meus vários "largos de memórias" este fim de semana.
ResponderEliminarLá estive na tua terra (onde almocei) e na minha, e em toda a zona desde Peniche à Nazaré.
Tenho a idéia que a Rua 26 no Bairro dos Arneiros se chama hoje Rua do Compromisso.
Será?
Beijinhos
Teria muito gosto de ter mais uma terra, mas não, Maria.
ResponderEliminarTenho uma onde nasci, no Alto-Douro e tenho outra, de adopção, a terra de minha mulher, em Albufeira, Algarve e é desta que tenho falado ultimamente.
Mas tenho outros "largos da memória"
Obrigado
Joaquim
Joaquim a Maria estava a falar das Caldas e da minha rua de infância, que é de facto a do Compromisso (estive lá há quinze dias e verifiquei o novo nome, e com uma vontade grande de descobrir o porquê do compromisso...).
ResponderEliminarObrigado por nos ter explicado a "fixação" por Albufeira...
Tudo esclarecido, meu caro Luís Eme, só não queria mal entendidos, com Maria.
ResponderEliminarObrigado pela foto que ilustra o texto. Devo dizer que procurei em Albufeira uma reprodução de um quadro de Bailote para esse fim, mas não encontrei. E eu que estive quase a comprar uma tela ao velho Mestre, no tempo em que ele começou! Mas ainda tenho esperança de encontrar um numa feira de velharias ou no lixo das velhas casas e, por isso, se me vir a olhar de forma atenta para os caixotes do lixo em Albufeira é só o tal quadro que eu procuro.
Obrigado
Joaquim
definitivamente, tenho de conhecer albufeira convenientemente. os sítios onde vamos "de passagem" acabam por nunca ter significado. creio que é o mínimo que devo fazer, tendo em conta o que aqui tenho lido. obrigada, luís.
ResponderEliminarNão haveria qualquer mal entendido com o Maria, ela é boa gente, Joaquim.
ResponderEliminarO problema é que há a tendência de inflacionarem os quadros, quando as pessoas partem... embora às vezes o desconhecimento de quem foi o artista, seja benéfico...
Deves agradecer ao Joaquim, Alice, as histórias e memórias de Albufeira são dele...
ResponderEliminarSinto agora o cheiro de fresco que sempre havia no café bailote. As histórias que ouvi do pintor tardio, o seu empregado, que me lembro dele sempre sisudo. E penso que tudo o que agora é deslavado, desinteressante, não terá também um antes, onde tudo fazia sentido?
ResponderEliminarE terá mesmo que ser assim o desenvolvimento, (in)sustentado?
Fernada Durão que às vezes tem dificuldade de acesso a esta área, a Fernanda Durão que conheceu Bailote e o seu café, pediu-me ou autorizou-me a publicar o seguinte comentário:
ResponderEliminar... "Com o desaparecimento do café Bailote foi arrancado mais um bocado daquela Albufeira Moura, das vielas brancas a brilhar ao Sol, a indicar-nos que o Grande Sul começava ali mesmo...
Os autarcas deviam saber que há ruas, cafés, lojinhas e mercados tão identificados com certos lugares que já não pertencem a ninguém. Fazem parte da alma da terra onde se inserem e são, por isso, Património de Todos. Ao lançarem ao lixo mais um ex-libris da Albufeira dos anos 60, os algarvios aproximam cada vez mais a sua terra das Benidorms que pululam por todo o Mediterrâne...
Clemenceaux disse um dia: - que a guerra é um assunto demasiado sério para ser decidido por generais - . Será que o urbanismo do Al Gharb não é uma matéria demasiado bela para ser gerida por autarcas ?
a) Fernanda Durão (apesar de tudo apaixonada pelo Al Gharb - Porta de todas as viagens para África e para o Sul... e todos os lugares que pairam na minha imaginação e que nenhum autarca me conseguirá tirar.