Quando voltava a casa Eduardo descobriu um movimento estranho à volta do prédio onde moravam, na Ajuda. Sem dar nas vistas continuou a caminhar e virou na próxima esquina. Andou perto de uma hora com a discrição possível. Já em Alcântara entrou num café, onde bebeu uma água e descansou um pouco, ainda sem saber muito bem o que fazer. Sabia que não podia voltar a casa. O aviso que lhe fizeram, da última vez que tinha sido interrogado, que da próxima vez que o vissem por ali não regressava a casa, soava na sua cabeça como se fosse quase um disco riscado.
Telefonou a um amigo de confiança, para que descansasse a companheira, de que continuava em liberdade. Depois apanhou o comboio para as Caldas. Apesar de estar a um passo da aldeia onde nasceu, não disse nada a ninguém da família, para não os colocar em risco. Refugiou-se na casa de um casal amigo, na Foz do Arelho.
Foi nesta localidade que soube da Revolução, dez dias depois, pela rádio, que esteve ligada dia e noite... com o evoluir da situação, acreditou que era desta, que se acabava, de vez, com a ditadura.
No dia 26 de Abril regressou a casa, felicíssimo, logo no primeiro comboio da manhã...
Só soube desta história, seis anos depois, quando fui convidado para jantar na casa do Eduardo e da Isabel, no dia 15 de Abril de 1981.
Quantas estórias lindas como esta haverá por aí, Luís?
ResponderEliminarQuantos medos, quantos escondidos, quantos...
... que depois viram para as ruas festejar?
Lembras-te do primeiro 1º de Maio? Eu sei que tinhas 11 anos, mas de certeza que tens memória... pelo menos por fotografias, ou por teres visto na televisão...
Conta-nos mais estórias assim, Luís... é tão bom...
Beijos
(Sabes, eu sou mesmo incorrigível: no próximo dia 24, quando a rádio ou a televisão começar a passar músicas alusivas, começo a chover cá por dentro, depois chovo mesmo e... é uma chatice... a emoção, sempre a emoção à flor da pele...)
É de facto magnífico conhecer estas histórias, vidas.
ResponderEliminarEu lembro-me mal(quase nada) do 25 de Abril, por isso o apreço que sinto por estas narrativas.
Beijinho Luís.
Pelo que me têm contado, deve ter sido a manifestação popular mais livre, alegre e expontânea do século XX (e se calhar de toda a nossa história).
ResponderEliminarÉ um dos momentos que tive pena de não viver, "in loco", Maria.
Felizmente lembro-me de muitas coisas Maria P....
ResponderEliminarNão estou com muita disponibilidade de tempo, mas queria falar mais sobre as conversas que escutei, aqui e ali, até para realçar a verdadeira imagem do nosso país.