Em Albufeira, se conhecer as ruas estreitas sobre a falésia, pode espreitar o mar e livrar-se do barulho das ruas, do excesso de alguns prédios que lhe tapam a vista e até dos turistas que se atropelam, coitados, por falta de espaço vital. Percorra, então, o que resta da Vila antiga debruçada sobre o mar, olhe a última casa de açoteia e chaminé rendilhada, sente-se num banco ali à mão e contemple o azul até à linha do horizonte, céu e mar, olhe o peneco e a praia e descubra que praia é uma razoável extensão de areia dourada e fina, e não um amontoado de corpos queimando ao sol.
Albufeira está a lidar mal com o seu crescimento que reproduz, inexoravelmente, o modelo de todo o turismo algarvio, onde agora introduziram o golf.
O programa Polis, na vila antiga, tenta corrigir alguns aspectos mais negativos - eles dizem impactos, talvez de tiros - mas o que é mais visível neste esforço inglório feito de poeira e desconforto é a incapacidade de conter os automóveis fora do seu perímetro, a iluminação de boite, o piso de supermercado e, principalmente, o crescimento excessivo das esplanadas em frente dos restaurantes, quando se esperaria que todo este espaço fosse devolvido livre aos cidadãos. E nas suas costas continuam a plantar prédios, modificando o perfil das colinas, ocultando encostas, barrando linhas de água!
Nestes restaurantes-esplanada onde até o pobre frango da Guia teria vergonha de ser apresentado, nunca vai encontrar uns carapauzinhos fritos, como os que a Edite faz e põe na mesa acompanhados de salada fresca que perfuma com com orégãos e de um arroz de tomate malandrinho.
Se for à praça do peixe, ainda os compra, quase a saltar. Regresse a casa, aprenda a amanhá-los, salgue-os com a dose certa de sal grosso, espere que o tomem, passe-os por farinha e frite-os então em óleo bem quente o que, não sendo simples, cabe dentro dos seus dotes culinários e vai ocupar-lhe boa parte da manhã.
Em Albufeira, deve espreitar o mar e, se apurar o ouvido, ainda pode escutar as horas certas batidas pelo relógio da torre, horas laicas pois sino e torre são da Câmara.
Eu costumo contá-las pelos dedos, para não me enganar. Mais um texto de Joaquim Nascimento, frequentador assíduo de um dos bancos cá do Largo.
Acreditas que há mais de 20 anos não vou a Albufeira?
ResponderEliminarAliás, tirando uns dias de inverno que passei em Monte Gordo, há mais de 20 anos que não percorro o Algarve.
Tem gente demais... Assim uma espécie de Foz do Arelho em Agosto, pra pior...
1. Agradeço a Luís Eme a fotografia que ilustra o texto. Será do início da década de sessenta, mas hei-de perguntar ao Valdemiro se consegue identificar a velha camionete estacionada ou o início das obras que hviam de dar o Restaurante "A Ruina", bom de peixe, mas a que também se pode chamar "Arruína".
ResponderEliminar2. Não seja radical; Maria. Vá por mim e escolha os tempos e os sítios certos. Agora, enquanro não chega Julho, é exclente.
3. Já lá vão doze anos, José Francisco !
Qundo voltar, você merece a raridade dos carapaus alimados e o seu requinte. Raras pessoas ainda os fazem e alguns antigos os apreciam muito.
Teremos imenso prazer em servir-lhos à nossa mesa.
Joaquim
E há sempre os passeios com olhos de ver que nos mostram o que foi e hoje não é. Se formos em silêncio, no pico do sol, quando todos estão na praia, ouvimos em nós memórias de outros, e o que nos contaram sobre esta outra Albufeira. Menos Polis, mais vila. E o mar, haverá sempre o mar(?).
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