Uma das coisas mais bonitas da nossa Revolução foi a grande lição de democracia e civismo, dada por todos aqueles que foram vitimas da PIDE. Não vimos ninguém aos tiros, a vingar a vida do pai, da mãe, do filho, da filha, do irmão, da irmã, do avô, da tia ou do tio.
Todos acreditaram na possibilidade de se fazer justiça pelos canais legais, através dos tribunais. Muitos ficaram desiludidos, por assistirem à impunidade de muitos dos carniceiros, que os torturaram de todas as formas possíveis, algumas das quais, nem nos passam pela cabeça. A maior parte passou apenas meia dúzia de meses na prisão, depois voltaram a ser cidadãos livres, como se fosse possível apagar o seu passado vergonhoso, com uma borracha...
Mais grave foi assistirem, quase duas décadas depois, à condecoração de dois inspectores da PIDE ou DGS, pelo governo do professor Cavaco Silva.
Estas palavras são dedicadas, inteiramente, aos resistentes antifascistas, quase todos do PCP, que cumpriram dezenas de anos nos presídios do regime, sem baixarem os braços na luta pela liberdade e pelo sonho da construção de uma sociedade mais justa.
Eles nunca desistiram de sonhar nem de lutar, nem mesmo quando começaram a ser empurrados pelos oportunistas de verbo fácil, que apareceram, apostados em agarrar as cadeiras confortáveis do poder.
Quando penso em homens como Alberto de Araújo, Bento Gonçalves, Alex Dinis, Militão Ribeiro, Dias Coelho, Soeiro Pereira Gomes, Pedro Matos Filipe, Mário Castelhano, Jacinto Vilaça, Joaquim Montes, entre tantos outros, que deram a vida pela Liberdade, esqueço tantas histórias e sinto-me, profundamente, comunista...
A ilustração que acompanha este texto foi pintada por Rogério Ribeiro, para o livro "Até Amanhã Camaradas", romance de Manuel Tiago (Álvaro Cunhal).