Mas como achei a crónica de Ana Cristina Leonardo no "Ípsilon" de hoje, muito feliz - tem alguns enigmas mas é sobretudo rica em retratos do mundo e do país -, achei que a transcrição de um dos parágrafos era boa para fazer de conta que vou "encerrar" o assunto:
«Se apelidar alguém de gordo pode ser
interpretado como discurso de ódio, se questionar a participação de mulheres
trans em competições desportivas femininas pode ser (e geralmente é, que o diga
J. K. Rowling…) visto como transfobia, se recusar a chamada linguagem inclusiva
que multiplica casos e casinhos pode ser entendido como discriminatório, se
optar por usar a palavra deficientes em vez da designação pessoas com
deficiência pode ser lido como prova de insensibilidade, se contar uma piada
passou a ser razoável apenas e só se a piada não ofender ninguém, se… se… se…
Já aparecer nas televisões e nos jornais a afirmar mentirosamente (desmentido
pelos serviços hospitalares e pela PSP) que os ciganos o queriam matar, ou a
expressar ideias boçais que nem na taberna de Eco, como fez o deputado Pedro
Pinto (Deputado! Por Toutatis!) — “Não podem querer que André Ventura vá para
uma cama onde ao lado esteja, por exemplo, alguém de etnia cigana” — passou a
ser admissível e, além de admissível, aceitável.
Repare-se, porém, no detalhe (e o Diabo, é
sabido, está nos detalhes): Pedro Pinto, recorrendo, até ele, e apesar da
boçalidade, ao politicamente correcto — um entendimento linguístico que nos
conduziu à ideia de que é possível mexer na merda sem sujar as mãos… —, não diz
ciganos, diz alguém de etnia cigana. É o progresso!»
As palavras de Ana Cristina não explicam, mas ajudam a compreender este mundo, o lugar para onde estamos a caminhar.
E a sua referência final da crónica ao hospital do Algarve (com cronologia e tudo) é bastante elucidativa do papel dos "sabujos" neste "país do faz de conta" ao longo das últimas décadas. E lá está, talvez a soma do banal dois mais dois, ajude a compreender - com mais nitidez - a vitória do Chega no "reino dos algarves"...
(Fotografia de Luís Eme - Olho de Boi)
O politicamente correcto já foi assumido pelos meus netos! 😀
ResponderEliminarAbraço
😊
EliminarO mundo mudou, Rosa.
Eliminar(e continua a mudar demasiado rápido...)