quinta-feira, outubro 26, 2023

Coisas de "Um Eremita em Paris" (e não só)...


De vez enquanto pego em cadernos quase antigos, onde costumo deixar apontamentos sobre tudo e sobre nada. Este era de 2014...

Há sempre uma ou outra frase sobre livros ou filmes. Desta vez descobri mais que uma frase sobre um dos livros de Italo Calvino, "Um Eremita em Paris" e escrevi que a espaços, me estava a olhar ao espelho, graças às suas palavras. 

«É o anonimato que me atrai: aquela multidão em que posso observar todos, um a um, e ao mesmo tempo desaparecer completamente.» (pois é, como eu gosto de me perder na multidão...)

«Quando me encontro num ambiente em que posso ter a ilusão de ser invisível, sinto-me muito bem.» (eu também...) 

«Dantes os escritores realmente populares, ninguém sabia quem eram, pessoalmente. Eram só um nome na capa e isso dava-lhes um fascínio extraordinário.» (esta frase fez-me pensar como tudo mudou. E também me lembrei que isso também acontecia na rádio, onde as pessoas eram mais "vozes que rostos"...)

Por ser o livro sobre "Um Eremita em Paris", não podia deixar de deixar por aqui, uma frase de Calvino sobre esta cidade singular: «Em Paris podemos sempre ter esperanças de encontrar o que julgávamos perdido, o passado nosso ou de outrem. A cidade pode ser um gigantesco serviço de perdidos e achados.»

Não há nada como os livros e os filmes para nos transportarem para "outras ruas" e fazer pensar que o mundo pode ser uma coisa diferente...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


2 comentários:

  1. O velho Italo Calvino, entre outros, seu mestre.
    Pelos tempos dramáticos, difíceis, trágicos que atravessamos escrevia a um amigo que era de esquerda mais por Roger Vailland, Albert Camus, Roger Martin du Gard, os neo-realistas italianos, portugueses, outras leituras, do que por Marx, Engels ou Lenine, não lidos na íntegra, é de esquerda porque é uma maneira de ser, como dizia o mestre-mor José Saramago.
    A págs. 232 do Eremita lê-se: «… até agora falei pouco do divertimento que se pode ter ao escrever: se não nos divertirmos ao menos um pouco, não pode sair-nos nada de bom. Para mim fazer coisas que me divertem quer dizer fazer coisas novas. Escrever em si é uma ocupação monótona e solitária; se nos repetirmos, somos tomados por um desconforto infinito. É claro que se tem de dizer que até a página que parece ter-me saído mais espontânea me custa um esforço tremendo; a satisfação, o alívio costumam vir depois, com a obra acabada. Mas o que importa é que se divirtam os que me lerem, não que não me divirta eu.»

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Os nossos blogues acabam por ter algumas parecenças, Sammy.

      Não fogem do presente mas também não se esquecem do passado...

      Eliminar