sexta-feira, junho 05, 2020

Ter Razão Antes e Depois do Tempo


Normalmente a experiência de vida é o factor mais importante, para nos fazer "ter razão antes e depois do tempo".

Há algumas pessoas que gostam de dizer que "têm um dedo que adivinha". Mas só o dizem quando acertam qualquer coisa. Nas outras dez vezes que "acertam ao lado", ficam em silêncio.

Infelizmente a nossa sociedade ocidental nunca foi muito de privilegiar a sabedoria de quem viveu mais tempo e observou mais coisas. Pelo contrário, acha que as pessoas a partir de certa idade são um "estorvo". É por isso que o negócio dos "lares" tem prosperado, mesmo que a maioria não ofereça condições dignas, para que pessoas como nós, passem os seus últimos dias (a pandemia voltou a trazer este problema para cima da mesa... mas se calhar já houve alguém que o voltou a colocar na sua parte de baixo...).

Queria falar da razão que nos é oferecida pelo tempo... e já estou a fazer um desvio, embora isto "esteja tudo ligado", como gostava de dizer o poeta Guerra.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

6 comentários:

  1. Sammy, o paquete05/06/20, 14:06

    Sim os velhos são um estorvo, e por vivência própria com familiares, tem dos lares a pior das ideias.
    Mas como teve sempre um princípio de que, quando outros colocam opiniões de uma maneira muito mais clara e objectiva, não hesita, e apresenta-a.
    É o caso de uma crónica de Manuel António Pina, publicada no «Jornal de Notícias» de 6 de Janeiro de 2010:

    « Noticia o DN que, no domingo passado, entre as 10 da manhã e as 10 da noite, foram encontrados mortos em Lisboa e levados pela PSP para o Instituto de Medicina Legal nove velhos. Viviam quase todos sozinhos, abandonados por filhos e família, sobrevivendo com a ajuda de vizinhos ou da Misericórdia, e pelo menos um deles tinha-se, em desespero, enforcado.
    Segundo a notícia, só as autópsias revelarão as "causas" dessas mortes. Só que nem os bisturis dos patologistas nem a química dos analistas podem alcançar no terrível e silencioso cancro social que ceifa hoje, em Portugal, a maior parte dos nossos velhos, a solidão. Expulsos da família e da sociedade, os velhos "atravessam o presente desculpando-se por não estarem já mais longe" e, amontoados em sórdidos "lares" e hospitais públicos ou entregues a si mesmos, trilham, desamparados, o resignado e último percurso "du lit à la fenêntre, puis du lit au fauteuil, puis du lit au lit" e às campas rasas dos cemitérios. Evitamos falar disso porque a principal doença de que morrem hoje os velhos é uma doença nossa, vergonhosa, que nos culpa a todos.»

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    1. O poeta Pina diz tudo, Sammy.

      Mas é muito triste e miserável um país de pessoas "sem memória"...

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    2. Sammy, o paquete06/06/20, 16:08

      Tem dias em que acorda com o verso de um poema, palavras de uma frase lida, antes de adormecer, de um dos livros estacionados na mesa, dita, de cabeceira, uma música.
      São dias bons, sorridentes, airosos.
      Mas tem dias – e são muitos ultimamente - em que acorda com o trauma: e se perder a memória, memória já com tantas fragilidades?
      Esse medo, depois acompanha-o pelo dia e vai assobiando, como as crianças assobiam quando atravessam uma rua escura.

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    3. Sammy, pouco adianta viver de "ses". A solução é viver um dia de cada vez, o melhor possível...

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  2. Primeiro minha avó e mais tarde minha mãe sempre diziam que "no ser humano os princípios são de sonho os fins de pesadelo" E garanto-lhe que minha avó sempre teve o carinho dos filhos, e minha mãe só esteve num lar os últimos oito meses porque de modo algum conseguia já cuidar dela. Ainda assim foi para um lar na rua onde viveu toda a vida a 300 metros da minha casa e passava com ela todas as tardes.
    Abraço, saúde e bom fim de semana

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    1. A chamada sabedoria popular, ensina-nos tanto, Elvira...

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