sábado, junho 06, 2020

As Ruas Silenciosas e uma Memória...


As ruas estão muito mais silenciosas, quando se ouve uma voz humana, chama-nos logo a atenção.

Foi o que aconteceu há pouco, com duas vizinhas que aproveitaram para colocar as "novidades" em dia, sem se aperceberem que as suas vozes entravam nas nossas janelas, como se quisessem falar connosco.

Sorri e recordei o meu pai, que sempre foi avesso à chamada "quadrilhice" ou "coscuvilhice", que ainda continua a fazer mais parte do universo feminino que do masculino. Se havia pessoa que ele não achava muita piada no nosso bairro era à leiteira (uma senhora que passava todos os dias pelas ruas do nosso bairro, com o seu carro metálico com rodas de bicicleta, que deveria ter um sistema qualquer de refrigeração  - nem que fosse uma pedra enorme de gelo - e vendia leite do dia em pacote, ao mesmo tempo que também oferecia "notícias fresquinhas" a quem lhe dava dois dedos de conversa...).

"Lá vem o jornal do bairro", dizia ele, por graça. 

E ela era mesmo boa, sabia tudo sobre a vida dos outros. Podia inventar algumas coisas, mas era uma autêntica investigadora, especialista em mexericos. Podia assinar muita da prosa das revistas (que são mais da cor de burro quando foge, que rosa...) ou ter uma página de facebook muito visitada e comentada...

(Fotografia de Luís Eme - o "Segredo" de Lagoa Henriques, Lisboa)

4 comentários:

  1. Há pessoas assim. Vivem coscuvilhando a vida dos outros talvez por medo de olharem para a sua própria vida.

    Abraço, saúde e bom fim de semana

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    1. Acho que é mais forte que elas, Elvira.

      Tem dentro delas um "manual de embirrações". :)

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  2. Quando mudámos para o novo apartamento, no 2º dia, ao abrir a janela da sala verifiquei que a vizinha do 1º andar estava com o filho a varrer a varanda.
    Saudei-a com um sonoro Bom dia!- que a sobressaltou. Olhou para cima, apresentei-me. Até hoje nunca mais a vi.
    Provavelmente pensou que eu queria fazer uma espécie de Pátio das Cantigas entre varanda e janela...
    De referir que a criança anda na mesma escola do meu neto, no mesmo ano mas numa turma diferente!
    Há gente muito macambúzia!

    Abraço

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    1. Ou que lhe ias "pedir sal ou açúcar", na manhã seguinte. :)

      Lisboa é cada vez mais uma cidade solitária, Rosa... que parece boa para quem só olha para o seu umbigo... parece.

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