terça-feira, junho 23, 2020

Teatros & Enigmas da Natureza Humana...


Há sempre duas ou três pessoas que me perguntam se tenho escrito muito, agora que estou por casa. A esse nível a minha vida não mudou assim tanto, pois já trabalhava em casa. Mas o mais fácil é dizer que não, sem estar com grandes justificações.

Mas por acaso comecei a escrever duas peças de teatro (gostava de conseguir acabar pelo menos uma delas, e mais importante, vê-la ser representada, nem que fosse por um dos vários grupos amadores da cidade...), que como convém nestas coisas, tem muita verdade e alguma imaginação.

Os títulos dizem quase tudo: "Catálogo de Cores" (sobre o racismo) e "Da Minha Janela vi o Mundo" (sobre a pandemia). 

Vou falar apenas da segunda, em que a personagem principal é um trabalhador precário da cultura (técnico de som e luzes), sem coragem para ir "pedir batatinhas" aos muitos bancos alimentares que existem por aí. Esse papel é feito pelo pai, que passa duas vezes pela sua rua, dá uma buzinadela de carro e deixa um saco com produtos essenciais (e meiguices da mãe... sim, escrevi isto), cá em baixo à porta.

Mais coisas? A namorada deixou-o, para ir fazer companhia aos pais, depois de ter feito uma "quarentena" de um mês com ele...

Quando as pessoas começam a sair a rua ele tem uma cena de pugilato com um tipo que se estava a gabar na mercearia que também fazia de tasca e vendia cerveja a tipos que nunca deixaram de trabalhar, quase todos da construção civil. Um deles disse que desde que tinham inventado as "caixas solidárias" nunca mais comprara arroz, massas, bolachas ou salsichas lá para casa, enquanto mostrava os dentes amarelos. Ele ficou fora de si, chamou "filho da puta" ao fulano e deu-lhe uma pêra (embora seja ficção, conhecendo a natureza humana, é normal que estas caixas sejam mais aproveitadas por quem não precisa do que por quem precisa...).

E só para terminar, ele também reparou, através da janela, que um dos vizinhos da frente (tem vivendas à frente do seu apartamento, tal como eu...), aproveitou a pandemia para trocar de Porsche...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

6 comentários:

  1. Coisas da vida real. Esperemos que consiga ver a peça representada.
    Abraço e saúde

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Era bom, Elvira. Mas se não acontecer, não virá mal nenhum ao mundo por isso...

      Eliminar
  2. Há janelas bastante indiscretas!

    Abraço

    ResponderEliminar
  3. Não sei se está mesmo a escrever esta peça de teatro ou se é mesmo uma intervenção/crítica social aqui no seu blog!
    É que tem muito de verdade!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Estou (ou estava, não voltei a ela...), Micaela.

      E este blogue como um "largo", onde se fala de tudo um pouco. E também de aspectos sociais, claro.

      Eliminar