terça-feira, fevereiro 20, 2018

Quando Ser ou não Ser, Deixa de ser a Questão...


Uma das melhores respostas à entrevista de Adolfo Mesquita Nunes, no "Expresso", em que ele tenta dizer, com a maior naturalidade, e quase sem palavras, que é gay. foi a crónica de António Guerreiro publicada no "Ipsilon" de sexta-feira.

E António começa o seu texto da melhor maneira: «Se eu fosse paneleiro - na verdade, ninguém pode garantir que eu não seja, não tenha sido ou não venha a ser - e ocupasse um cargo político nunca aceitaria o protocolo da confissão, dizer o que é se é àqueles que não o são. Não para manter o "segredo", mas para não me submeter à regra da autenticação pelo discurso da verdade, tão aplaudido pelos que acham que a sua verdade é diariamente autenticada pelas evidências.»

No nosso país (e no mundo...) há três formas de se viver a sexualidade das minorias: esconder e fingir que gostamos das mesmas coisas que os outros (a norma, pelo menos das figuras públicas...); publicitar, algo de novo e "moderno", ideal para quem gosta de ser notícia de jornal; e por último aquela que eu acho que deveria ser a mais normal, aceitar e viver com naturalidade, sem ter de dar explicações ou justificar o que quer que seja, neste campo.

Quem gosta muito deste tipo de notícias é a comunicação social (e a gente que as lê avidamente, que têm menos de "metro e meio de altura"...), especialmente as revistas e jornais que gostam de dar informação ao jeito de folhetins de novelas. Não foi por acaso que na última semana tanto se escreveu sobre o casamento de uma directora de programas televisivos, quase balzaquiana, com uma actriz de telenovelas, quase menina... Claro que se falou porque elas quiseram ser notícia, quiseram publicitar a diferença (há pelo menos duas razões para isso acontecer; quererem acabar com os cochichos e com os olhares de lado dos outros, por onde quer que elas passam; ou querer ter um casamento badalado nos jornais e revistas...).

Sei o que é isso, porque embora não frequente os lugares da moda, tive conversas mais que suficientes com pessoas que sempre quer podiam apontavam o dedo e diziam: «fulano tal é paneleiro, vive com o Manuel daquela loja de roupa esquisita, mas é um gajo porreiro.»

Vou continuar com António Guerreiro para chegar ao ponto que quero discutir: «Se eu fosse paneleiro e político - malditos pês, que afluem como em hora de ponta, salvo seja - ficaria sempre calado para não ser transformado num estereótipo do homossexual de Estado, a não ser que aspirasse precisamente a esta condição.»

Como não acho que a classe política seja de confiança, esta modernice (especialmente por vir do nosso partido mais conservador...), pode também ser estratégica. O CDS pode querer dizer ao eleitorado do centro-direita, que já não é um partido conservador e tem as portas abertas a todos os liberais do PSD, que não gostam da social-democracia, que parece estar de regresso a este partido.

Claro que - excepto a meia-dúzia de amigos mais próximos do dirigente centrista - nunca iremos saber, até que ponto Adolfo foi genuíno, ou não. Foi também por isso que me apeteceu escrever este texto...

(Óleo de Laurits Tuxen)

8 comentários:

  1. Luís, apetece-me dizer que não dou para este peditório, que de facto não dou.
    Ainda bem que não acho um bem (redundância propositada)que alguém venha falar publicamente da sua sexualidade e que não acho que estar ou não nas margens lhe acrescente ou diminua alguma coisa, nem creio que isso nos tempos actuais e ao nível da nossa sociedade faça diferença em termos de esbater preconceitos.

    Não tenho qualquer curiosidade sobre a sexualidade dos outros e gosto que seja um assunto de reserva. Só deve ter outra abrangência, se direitos estiverem em causa, o que não parece ser o caso.

    'Acho graça' (não acho nenhuma), quando se diz que estas confissões são actos de coragem.

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    1. Não faz para nós, Isabel.

      Mas faz para quem enche a barriga com as notícias do "CM" e acha que o Facebook é a maravilha das maravilhas.

      Também não consigo achar que são actos de coragem, é sim o abrir uma porta, da nossa intimidade, que depois de aberta já não se consegue fechar...

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  2. sabes o mais curioso, Luís? eu actualmente vivo retirada numa aldeia. De vez em quando alguém (sempre pessoas mais idosas do que eu, que é o que aqui há mais) comenta: "fulano anda com sicrano" (é curioso, estou a pensar neste momento, os casos são todos no masculino), mas sempre com a maior naturalidade. Ou as minhas vizinhas vêem muitas telenovelas ou ainda precisam de ensinar umas coisas há malta cool das cidades.

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    1. Mas isso explica-se bem, Maria (para lá das telenovelas, que também estão muito "evoluídas" e todas fazem questões de ter casais homossexuais no cenário).

      Os programas televisivos que ocupam as manhãs e as tardes dessas pessoas pagam a especialistas em "mexericos", que todos os dias "pintam" a vida de alguém...

      E por isso sabem mais quem é fulano e sicrano, que nós. :)

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  3. Reli o meu comentário e verifiquei que escrevi um erro tolo (a idade não perdoa):(

    Mas voltando ao tema, sendo este meio em que vivo excessivamente conservador, noto uma grande abertura para esta questão das relações homossexuais. Talvez porque sejam "miúdos" que conhecem e viram crescer. Nos núcleos familiares (nos casos que conheço)também não há rejeição. Pelo menos não transparece.

    Não quero eu dizer com isto que não haja situações de rejeição. Há de certeza. O que também noto nas "comunidades gays" é uma necessidade de pertença ao grupo. Cada um que se manifesta, digamos que valida as opções de todos os outros. É uma necessidade humana.

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    1. Os comentários não são exercícios de português, Maria. :)

      É quase sempre escrita leve e rápida.

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  4. Este é um assunto complicado de comentar para mim. Não acompanho muito as notícias e nem tinha lido a entrevista. Vi uma chamada de atenção para o artigo de Isabel Moreira no expresso, e por curiosidade fui ler. E sinceramente fiquei espantada. Não compreendo que necessidade têm os homossexuais de assumirem publicamente a sua homossexualidade. Penso que isso é algo do foro intimo de cada um, e ninguém tem nada com isso. Mal comparado, faz-me lembrar dos leprosos que tinham que gritar ao mundo que o eram. Embora esses o fizessem por obrigação e para evitar o contágio.
    Eu julgo uma pessoa, pelo seu carácter, por ser cometente no que faz, por ser uma pessoa honesta ou corrupta. Nunca pela sua cor, pela sua sexualidade ou religião.
    Abraço

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    1. Eu só compreendo numa situação especial, de solidariedade, ou algo parecido, Elvira.

      Mas há modas para tudo...

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