quinta-feira, janeiro 18, 2007

O 18 de Janeiro em Almada


Almada quase parou no dia 18 de Janeiro de 1934, devido à grande aderência dos trabalhadores do concelho à greve revolucionária, organizada pela Confederação Geral do Trabalho e pela Comissão Intersindical, as duas forças sindicais mais importantes na época junto dos trabalhadores.
A greve revolucionária deu-se devido à tentativa fascista de liquidar as Associações de Classe e os Sindicatos Livres, para quebrar a força e a união dos operários.
Almada na época era um concelho razoavelmente industrializado, possuindo uma classe operária bastante esclarecida e aguerrida na defesa dos seus direitos. Os anarco-sindicalistas (CGT) eram a força política dominante junto dos trabalhadores da Margem Sul que operavam nas fábricas de cortiça e nos estaleiros navais.
Na manhã de 18 de Janeiro as fábricas de cortiça “Henry Bucknall”, “Rankins & Sons”, “Armstrong & Cook”, de Almada, tal como a empresa moageira “Aliança”, do Caramujo, e os estaleiros navais na Mutela em Cacilhas, tiveram de encerrar devido à ausência dos seus assalariados. Solidários com o movimento, os motoristas de autocarros e de automóveis de aluguer, interromperam as suas funções das 10.30 às 14 horas.
Como se não bastasse, não trabalharem, os operários invadiram as ruas de Cacilhas, Cova da Piedade e Almada, provocando alguma agitação que seria reprimida pelas forças da ordem.
Fracassada a greve revolucionária, a repressão não se fez esperar. Cerca de vinte trabalhadores foram apontados como os grandes causadores da paralisação, sendo presos e conduzidos para Lisboa, sob forte escolta policial.
A maioria dos presos pertenciam aos movimentos anarquistas, afectos à CGT.
Uma das consequências desse movimento, foi a suspensão do semanário “O Almadense”, e a prisão do seu director, Felizardo Artur, o qual seria libertado três semanas depois, do Forte da Trafaria, depois de se provar que não estava envolvido no movimento.
Mas o título “O Almadense” continuou proibido por largos anos.
A grande contribuição dos trabalhadores almadenses nesta jornada de luta operária, ficou registada através do fabrico de engenhos explosivos e sua distribuição um pouco por todo o país. A “Fábrica de Bombas” situava-se na Cova da Piedade, num barracão alugado. Os principais responsáveis da CGT por este sector eram, Manuel Augusto da Costa e Romano Duarte.
As maiores vitimas do movimento foram Manuel Augusto da Costa, natural do concelho do Seixal e os almadenses, Pedro Matos Filipe e Joaquim Montes, condenados a 14 anos de degredo.
Começaram a cumprir as suas penas na Fortaleza de Angra do Heroísmo, mas com o aparecimento do Campo do Tarrafal, a jóia da coroa das forças repressivas, foram transferidos para a malfadada Ilha de Santiago, fazendo parte da primeira leva de prisioneiros que foram estrear o presidio.
Texto e imagem extraídos do livro "Almada e a Resistência Antifascista", da autoria de Luís Alves Milheiro.

2 comentários:

  1. Irei procurar o livro, já que sei muito pouco sobre esse 18 de Janeiro...

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  2. Vais ter dificuldade em arranjá-lo, porque já foi editado em 2000...

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