segunda-feira, novembro 03, 2008

A Arte de Criar

Há já algum tempo (poucos dias depois da entrevista de José Rodrigues dos Santos ao "DN"), que me apetecia escrever sobre o processo criativo artístico. Não sabia muito bem como abordar o tema, sem ser excessivamente polémico, conseguindo ao mesmo tempo dizer o que penso, de uma forma curta e simples.
Primeiro que tudo, penso que criar é sobretudo um acto de inspiração e não de transpiração, por muita disciplina e capacidade de trabalho que tenhamos.
Segundo o meu ponto de vista, o acto de criar, tem um tempo próprio. Vou mesmo mais longe e digo que a criatividade vive dos compassos de espera, do imprevisto, porque as coisas (pelo menos as boas...) nem sempre saem quando queremos...
Isto serve para todas as artes, da literatura à música, passando pelas artes plásticas e pelos palcos.
Claro que exercitar a criatividade é fundamental e torna tudo mais fácil. Mas não é todos os dias que se cria algo bom ou genial...
Só pela entrevista do jornalista da RTP ao "DN" (nunca li nenhum livro dele e já devia...), percebi que ele é um escritor de transpiração e não de inspiração, já que com as suas palavras desvalorizou o acto criativo, realçando a sua capacidade de trabalho.
É por isso que arrisco dizer, mesmo sem conhecer a sua obra, que os seus livros poderão ser bons, mas nunca serão brilhantes ou geniais.
Claro que é uma mera opinião pessoal...
Este bonito óleo, "O Pombo e Ervilhas", é de Picasso, na sua fase do cubismo sintético.

20 comentários:

  1. Luís, a entrevista que ele deu ao Dn é vergonhosa no ponto de vista da vaidade humana. É tão egocêntrico o que ele diz que a própria vaidade, deixou de ser um pecado capital.
    O senhor não se enxerga. Ou então enxerga-se em demasia. Não tem travões, cuidado ou um mínimo de prudência naquilo que disse. E porquê? Porque não quer. É o legítimo Narciso.
    Aquilo não é Literatura, aquilo é trabalho de pesquisa, truques jornalísticos de tornar uma história vulgar com laivos de enredo, mete-se na fornalha do sucesso, que existe na maioria das nossas editoras e já está. Sai outra porcaria para as montras das livrarias, escaparates, jornais e revistas. Tudo publicidade paga, obviamente.

    Só lhe li o 1º romance. Uma treta de personagens vazias de conteúdo, frias, sem emoções e calor humano. Algum trabalho de pesquisa sobre a participação portuguesa na 1ª Grande Guerra. So what? Qualquer aluno do 12º ano também vai à Torre do Tombo e à Biblioteca Nacional, para o fazer e se calhar melhor.

    Quanto à restante tralha que ele escreve, nem lhes toquei, mas de certeza que prefiro ler os originais. E originais diga-se, os livros do Dan Brown, em vez das cópias do JRS e nem nisso pego por curiosidade.
    Tenho pouco tempo e o que tenho é para investir em Livros.

    Que grande peneirento, é só o que me apetece dizer! escreve livros em seis meses! livros? É preciso ter lata!

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  2. "Segundo o meu ponto de vista, o acto de criar, tem um tempo próprio. Vou mesmo mais longe e digo que a criatividade vive dos compassos de espera, do imprevisto, porque as coisas (pelo menos as boas...) nem sempre saem quando queremos..."

    Subscrevo inteiramente e, como o Luís diz mais abaixo, não é todos os dias que se cria, não é quando se quer...

    Penso, contudo, que a transpiração tem de existir para que o domínio da arte (qualquer que ela seja) se complete com coerência e com a particularidade de cada um, como numa constante aprendizagem. Mas, esta transpiração, apenas vai ajudar ao processo criativo que é absolutamente independente dela, vai dar-lhe fluidez, vai permitir que a técnica sirva a inspiração e que o artista possa deixar o seu olhar "interior" ou "exterior" vadiar sem, numa primeira fase, se deter nos pormenores que lhe podiam cercear o ímpeto criativo.

    É esta troca de ideias que eu tanto gosto na net. Uma boa semana.

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  3. Também te dou as mãos...

    tanto por desconhecer em absoluto os livros que já editou(não me perguntes porquê, não me senti atraída para a compra), mas também porque acho que apareceu numa certa linha de oportunidade editorial que grassou/grassa por aí...opinião obviamente pessoal.

    bjs Luís

    maré

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  4. Não li a entrevista. Não li os livros. Acho que se pode transpirar muito, mas se não se tiver talento não se chega a lado nenhum... Concordo contigo.
    Um abraço Luís.

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  5. como comentário sirvo_me do que escrevi uma vez:


    o acto de criar é um acto solitário



    o estar só não me incomoda nada. pelo contrário. após estar com os outros durante todo o dia quando cai a noite fecho a porta.

    aí tenho encontro marcado com o criar. tem dias que é em letras. outros em cor. e ás vezes invento-me nas notas. aí conheço-me segura. sou dona e senhora de mim.



    o acto de criar corresponde para mim de igual modo ao acto de me sentar à mesa para jantar ou o do acender o cigarro sempre após o café. preciso de me reinventar todos os dias.



    quando fecho a porta transpiro de entusiasmo por me encontrar a sós. desligo qualquer sinal que me incomode. dou apenas algumas breves oportunidades a quem me mereça. a outros solitários que como eu cerram as vidraças quando se sentem ameaçados no seu acto de criação.



    a solidão para mim é uma companhia. espectadora de mim invento as linhas que me dão forma. crio as formas que me dão prazer. ilustro as letras que me tocam. e acendo as luzes que me indicam o caminho.



    às vezes perco-me. mas sabe tão bem perder-me. chego até a queimar os mapas.



    o criar é respirar.
    é libertar.
    e é amar.



    porque cada linha cada cor cada letra é sentimento.
    e é-o sempre a sós.

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  6. um processo de criação é o processo antigo de ser-se antigo.

    anos e anos a saber ver dentro.


    ______________



    subscrevo-Te.



    (como não?)


    beijo,,,,,,,,,,,,!!!!!

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  7. Luís, concordo contigo. Já li livros deste autor e, apesar de não o achar muito mau, também não o considero muito bom. Penso que escreve um pouco "a metro", para um público muito mediano e, sobretudo, tendo em vista as vendas. E não há dúvida que alcança os seus objectivos...
    Bjs

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  8. Nunca pensei muito nisso. Por isso achei interessante o teu texto. Mas a transpiração aprefeiçoará a criação. Sobre o acto criativo, concordo contigo. Vem a velha história do talento; da inspiração: ou se tem ou, trabalhando muito, fazem-se coisas jeitosinhas - mas sem rasgo maior.

    Beijinhos

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  9. tu falas com conhecimento de causa, Patti, já o leste.

    não percebi muito bem a razão das palavras da entrevista. será mesmo vaidoso? terá sido marketing? uma boa polémica ajuda sempre a vender mais uns livrinhos...

    (luis eme)

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  10. criar é um acto de sapiência e também de transpiração, sem dúvida.

    tens razão, Helena, é com estas trocas de ideias e de pensamentos que crescemos...

    foi pena não ter aparecido ninguém que gostasse dos livros do JRS, para tornar estes nossos diálogos ainda mais interessantes.

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  11. também não sei explicar muito bem o meu desinteresse, Maré.

    talvez não o olhe como escritor, mas apenas como apresentador do telejornal (estes preconceitos...)

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  12. essa é que é a verdade, Graça.

    mas há outro fenómeno, que a exploração das figuras públicas, até como escritores (por isso é que apareceram por aí os escritores fantasmas...)

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  13. e serviste-te muito bem, Ivone...

    o acto de criar é uma das coisas mais solitárias...

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  14. pois é Isabel, ajuda ser-se antigo...

    ver muito mundo, ler muitos livros, olhar muita arte, assistir a muitos filmes e muitas peças de teatro...

    enche-nos de dúvidas mas também de vontade de criar...

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  15. falas com o conhecimento de causa, que eu não tenho, Paula.

    mas brevemente vou ler um dos seus livros, prometo...

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  16. claro, Lúcia, transpiração sem inspiração é um "plof"...

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  17. sabes, a minha não é uma questão de o olhar como apresentador( quase nem me lembro, talvez por pouco assistir ao Telejornal) porque já comprei alguns do Rodrigo Guedes de Carvalho por me ter atraído algo que li sobre a sua escrita e até gostei. Com o JRS...hummm.

    e agora vou nanar que já acabei o trabalho e estou cansadita
    só vim dar-te um olá e boa noite :)

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  18. bem, a personagem Rodrigo é mais misteriosa que a do Zé, que até pisca o olho quando se despede do "povo", Maré...

    piscadela, que também é um trunfo para vender livros. o Zé sabe-a toda..

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  19. Oooopsss Gosto mesmo das atmosferas dos cais, dos Contentores ... Lx é uma cidade de gente Zangada com o seu Rio ... mal o tratam, mal o olham, mal o sabem existente! O Tejo pertence ao coração das gentes da Margem Sul que o atravessam, o olham, o sentem, o sabem existente. Vale.

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