sábado, julho 26, 2025

Os "artistas" que fazem parte do "cenário" dos políticos (quando estes estão à frente das câmaras)


Não sei como lhes chame. Na maior parte das vezes são personagens secundárias, embora também existam ministros a fazer esse papel. Por vezes parecem espantalhos, outras figurantes, mas se puderam, não falham a presença na "caixa mágica".

Ficam ao lado e atrás (mas quase encostados, para também aparecerem nas notícias da televisão...). As suas expressões são engraçadas e diversas. Uns ficam com os olhos a brilhar, como se "lambessem" todas as palavras de quem fala (ou então é a emoção de aparecer na televisão...), outros fazem cara séria, porque "aquilo não é uma brincadeira", outros sorriem, porque "tristezas não pagam dívidas", outros ainda, não conseguem estar quietos, talvez porque assim seja mais fácil centrar as atenções lá por casa, se bem que também podem ter essa coisa que chamam, "bicho de carpinteiro"...

A única coisa de que não tenho dúvidas, é que são todos bonecos, bonecos televisivos...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, julho 25, 2025

O tempo e os tremeliques da terra...


Uma das melhores coisas que acontecem, quando estamos de férias, é perdermos a noção dos dias da semana. 

Se não trouxermos "chatices" coladas aos calções, nem outras coisas que tenham o condão de sinalizar os dias, sinto que amanhã tanto pode ser quinta, sexta ou sábado...

(Claro que também sei que há sempre alguém que nos lembra, e diz: «olha que amanhã é sábado»)

E mesmo que não queira saber do mundo nem veja notícias, eis que a minha filha me dá a novidade que de madrugada houve um sismo, que veio da Madeira até ao Continente e que em Lisboa ultrapassou o número cinco da escala...

E é a falar dos tremeliques da terra - que se chegaram ao Sul, não dei por nada -, que vou ali e já venho...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


quarta-feira, julho 23, 2025

O "lixo televisivo" e os seus vários cúmplices...


Uma das ultimas conversas que tive com amigos antes de vir de férias, foi sobre "lixo televisivo", inclusive o noticioso.

Houve quem utilizasse até a palavra "cumplicidade", quando falava de uma Clara de Sousa, de um Rodrigo Guedes de Carvalho ou de João Adelino Faria, que deviam fazer a diferença (o mesmo já não esperavam de Sandra Felgueiras ou do jeitoso do Rodrigues dos Santos...).

Não estive de acordo. Eles são apenas os "mensageiros", e provavelmente até alteram os textos de algumas notícias (pelo menos eu penso que têm estatuto para isso...), que lhes dão para lerem.

É todo um sistema informativo que está mal, cada vez mais "populista", assim como a forma como se interpretam as audiências.

Também se falou da manipulação que se faz das emoções humanas. Faz-nos confusão a todos, que os programas da manhã e da tarde, não consigam passar um dia, sem descerem mais um degrau e explorarem os sentimentos e as desgraças alheias.

O mais curioso é todos olharem para o CMTV de cima para baixo, mas depois acabam todos por ir atrás daquele modelo populista de fazer televisão, porque além de estar virado para o espectáculo, repete-se e repete-se (são capazes de "matar" a mesma pessoa cem vezes por dia...), e claro, adora as "meias-verdades" e as "meias-mentiras".

Claro que todos temos a alternativa de desligar o botão ou de mudar de canal. Mas isso não muda nada no "aterro televisivo" nacional...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, julho 22, 2025

A palavra talvez...


Talvez seja um problema de personalidade... Talvez seja algo que já nasce dentro de nós.

Olho para trás e sei que andei quase sempre pelos caminhos mais longos e difíceis, mas não me importei muito em demorar mais tempo a chegar a Roma.

Sei apenas que habita dentro de nós, vezes de mais, a palavra talvez...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


domingo, julho 20, 2025

Muito barulho e saudades de porrada


A senhora com mais de oitenta anos discursava na mercearia, como se estivesse num parlamento como o nosso, com gente com ideias estranhas sobre o mundo.

Tinha saudades do tempo em que os pais "educavam" os filhos à "porrada", em que o medo se juntava ao respeito, com a maior das facilidades.

Deixei-a com as saudades dela, em silêncio.

Claro que quando vinha para casa, pensei na educação e nos meus filhos. Nunca fui de bater, mesmo assim lembro-me dos desafios e das provocações do meu filho, a pedir uma ou duas palmadas... Em relação à minha filha, nem me lembro de lhe ter dado uma palmada (mas deve ter acontecido, aqui e ali...).

Mas a senhora estava errada, o respeito não tem nada a ver com pancada. Com o medo, sim...

Acho que o maior problema da educação nos nossos dias não tem nada a ver com pancada. Tem sim, a ver com o uso da palavra "não", que devia ser utilizada com firmeza e não "meio a brincar"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, julho 19, 2025

Poesia com (várias) guerras lá por dentro


Dois dos meus autores preferidos são a Maria Judite de Carvalho e o José Gomes Ferreira. Sempre que me vêm parar às mãos livros das suas autorias, viajo agradado dentro das suas páginas.

Hoje acabei de ler a "Poesia II" do Zé Gomes, com poemas escritos de 1938 a 1943, alguns muito sofridos, devido à Guerra que estava a destruir a Europa.

Transcrevo um dos poemas pela mistura de sentimentos, num tempo estranho, quase como aquele que estamos a viver. Embora ainda não estejamos em ditadura, como acontecia nesses anos sombrios...

                                                                                    (Subo lentamente a rua para casa...)

No céu, a lua e as estrelas...
Na terra, silêncio e gatos...

E, eu às três de madrugada
com passos de rasgar o chão
a ouvir ranger nos sapatos
o violoncelo da minha solidão...

(esta triste solidão de deus do avesso
onde até a Morte apodreço.)


(Fotografia de Luís Eme - Foz do Arelho)


sexta-feira, julho 18, 2025

O turismo, sempre ele (justifica todos os crescimentos)...


O turismo (a galinha que "põe" ovos de cor amarela para os governos...) fez crescer muitas coisas, ao ponto de tornar a vida dos habitantes fixos das cidades maiores, um pesadelo cada vez maior.

Há outras coisas que também crescem, quase em paralelo, umas quase "invisíveis", como são os carteiristas e outras demasiado visíveis, como são os pedintes.

Tanto uma como outra, tornaram-se quase uma profissão (até "indústria"), graças aos romenos, que devem ser uma chatice para os mendigos portugueses...

Lá estou eu a "esticar-me"... Só queria falar do facto de nenhum dos meus companheiros da "indústria das palavras", dar esmolas (a excepção são os cegos do metro, quando temos moedas nos bolsos...) a esta gente "profissional".

Mas eles continuam espalhados pelas ruas, nas esquinas e à entrada de casas comerciais. Ou seja, devem garantir o seu "rendimento" diário.

E lá vieram os turistas, que segundo o nosso ponto de vista, não são apenas a salvação do governo de "Monteverde" (como foram do Costa), chegam a todo o lado e dão a mão a quase todas as actividades económicas do país, até a quem trabalha com a mão esticada nas ruas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, julho 17, 2025

O mundo das músicas (quase todas)


A música continua a não estar muito estudada, pelo menos com algum conteúdo histórico, no nosso país (só o fado é que tem vários especialistas, entre outras coisas, porque é um mundo mais misterioso e envolvente...).

Foi por isso que me desafiaram para começar um projecto, sem data, para escrever quando e como me apetecesse. 

Isto aconteceu porque tive a "ousadia" de falar da originalidade, da diversidade, da qualidade, e claro, da banalidade da nossa música (com nomes e tudo...).

Acabei por dar um realce especial ao fado (ao antigo...), em que o principal objectivo dos, e das fadistas, era ser dono de um estilo próprio, ou seja, tinham muito cuidado com as imitações. As fadistas então (as boas claro), fugiam a sete pés da Amália e da sua forma única de cantar.

É por isso que é digno de realce, que tenham existido bastantes vozes femininas que cantaram o fado nos anos cinquenta, sessenta e setenta, sem deixarem de andar de cabeça levantada pelas ruas de Lisboa. E algumas ainda se ouvem com com prazer redobrado. Neste caso particular até dou meia dúzia de exemplos:  Argentina Santos, Beatriz Conceição, Celeste Rodrigues, Hermínia Silva, Lucília do Carmo ou Maria Teresa de Noronha.

Claro que se escrevesse algo sobre "músicas", teria de dizer que o autor era um não especialista, duro de ouvido...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, julho 16, 2025

Às vezes o telemóvel é importante (mas só às vezes)...


Eu que só uso o telemóvel como telefone, hoje ao dar por falta dele, já no interior do cacilheiro, pensei que "não viria mal nenhum ao mundo", por ele ter ficado lá por casa. O problema é que estava enganado...

Um encontro marcado acabou por ficar sem a minha comparência, porque a pessoa com quem eu me ia encontrar mudara de casa (e já uns anitos...) e por pensar que eu estava a par da mudança, não me disse nada. Ou seja, só o descobri à entrada do prédio, onde também já vivi...

Felizmente pude contar com a simpatia e a disponibilidade de duas senhoras (da lavandaria e do cabeleireiro da rua), que mesmo sem nunca me terem visto em parte alguma, tentaram "menorizar" a sucessão de contratempos, que aconteceu em poucos minutos. Havia duas senhoras que ainda habitavam no prédio que poderiam, resolver a questão. Mas não estavam nesta manhã. E, infelizmente, também não estavam contactáveis.

Mas esteve longe de ser uma manhã perdida. Pude passar por ruas por onde não passava há vários anos e recuar no tempo, e sentir, ao mesmo tempo, a simpatia e a camaradagem dos bairros que gostam de ser antigos...

Só depois do regresso a casa é que me pude "desculpar", ao responder à "chamada não atendida". 

Em Agosto, de certeza que será possível conversarmos sobre uma terceira pessoa, que nos é querida a ambos, para que a minha homenagem sobre a forma de livro seja mais abrangente...

(Fotografia de Luís Eme - Cruz Quebrada)


terça-feira, julho 15, 2025

Há sempre coisas que têm de ficar para amanhã...


Delegaram-me a missão de colocar determinada pessoa a par de um projecto colectivo comum, depois de uma reunião com avanços importantes.

Por ela estar envolvida numa iniciativa que estava a decorrer, deram-me um outro nome feminino, de uma espécie de secretária, com quem poderia falar e colocá-la a par de tudo.

Cheguei e perguntei se era possível falar com a tal senhora. Telefonaram e depois perguntaram-me qual era a temática, expliquei de uma forma sintética o que me tinha levado ali. Do lado de lá recebi a informação de que ela também estava muito ocupada com o mesmo certame e que o melhor seria aparecer noutra altura. Agradeci a atenção.

Depois de ter saído, segundos depois resolvi voltar a entrar. De repente  tive uma ideia quase luminosa. Pensei que me poderia voltar a acontecer a mesma coisa, no dia seguinte, receber a resposta de que ela "estar demasiado ocupada para falar comigo". E então voltei à recepção e disse ao rapaz do telefone se poderia perguntar à senhorita, se havia uma hora em que ela me pudesse receber, no dia seguinte.

Enquanto esperava resposta, ainda desabafei que estava a ficar velho demais, para aqueles jogos, ainda por cima quando estava em causa um projecto colectivo...

Segundos depois, veio a resposta. Sim, era possível falarmos, às 16 horas, de quarta-feira...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, julho 14, 2025

«Estamos todos a ficar sem "travões". O normal é dizerem-se coisas cada vez mais parvas e ofensivas uns aos outros.»


O Carlos continua a "incendiar" a nossa mesa com frases, que, começam por se estranhar, para depois se entranharem, e serem aceites por todos nós, mesmo que isso aconteça duas ou três voltas depois.

Quando ele disse: «Estamos todos a ficar sem travões. O normal é dizerem-se coisas cada vez mais parvas e ofensivas uns aos outros», ficámos a olhar uns para os outros.

Houve alguém que falou de sermos menos hipócritas. Claro que é mentira. Esta sociedade onde o mérito fica vezes demais a porta, convive bem com a hipocrísia, o fingimento e o "lambe-botismo".

Foi a Carla que disse que era algo mais profundo, que tinha a ver com os valores que recebíamos em casa, onde se aprendia a respeitar e a tolerar o outro, mesmo quando nos apetecia mandá-lo para aquela parte.

Se em casa, na escola, no trabalho ou no café, quem fala mais alto é que acha que está certo, com a conivência de quem lhe devia chamar a atenção, e dizer que conversar é outra coisa, que o monólogo não faz parte da família do diálogo.

 «E nós, vamos começar a falar mais baixinho?», soltou em tom provocador, o Carlos.

A gargalhada geral respondeu pela mesa. Precisamos todos de colocar "pastilhas" nos travões...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, julho 13, 2025

A vida tal como ela é


Quando escrevemos sobre pessoas mais próximas de nós (se existirem ligações familiares ainda se torna mais estranho...), em parte, sentimos que a história está ser reescrita de novo.

Isso acontece com alguma naturalidade. Além de não termos vividos todos os acontecimentos (é impossível estarmos em todo o lado...), também descobrimos, através das conversas que vamos mantendo aqui e ali, que não conhecemos assim tão bem a vida de algumas pessoas, mesmo as que nos são queridas. 

O curioso, é que tenho ficado, quase sempre, surpreendido de uma forma positiva.

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


sábado, julho 12, 2025

Há mudanças de ciclo que não têm de passar pela mudança de treinadores


A selecção feminina de futebol com alguma sorte (às vezes, muita...), foi ultrapassando metas, cedo demais, ao ponto de algumas pessoas já pensarem que estavam quase ao lado das melhores equipas do mundo, e que dentro de pouco tempo, até poderíamos disputar títulos.

Só que os "quase milagres", são sempre enganadores... 

Basta olhar para o panorama futebolístico nacional, onde o futebol feminino, ainda esta longe de ser uma realidade de Norte a Sul, com um campo de recrutamento demasiado escasso a nível clubístico e associativo. 

A aposta da Federação no futebol feminino, com um profissionalismo digno de destaque, próximo das melhores selecções, acabou por dar uma perspectiva errada do futebol feminino no nosso país.

E tudo isto graças a Mónica Jorge e à equipa técnica comandada por Francisco Neto.

Agora o normal é começar-se a falar do fim de ciclo (como já se fez com a selecção masculina de sub 21 de Rui Jorge). E já devem existir vários técnicos "gulosos" preparados para o "render da guarda" do Francisco...

Mas olhando para todo o percurso destas duas selecções, onde a imagem que ficou, foi da existência de equipas técnicas de grande qualidade, técnica e humana, o normal (isto, se fossemos um país normal....) seria que fossem Francisco Neto e Rui Jorge a decidir o seu futuro e não terceiros, como acontece no futebol. Futebol que faz gala em ser "traiçoeiro" e "ingrato" (tal como as dezenas de jornalistas e comentadores deste tempo, com lata para dizer uma coisa hoje e o seu contrário amanhã...).

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, julho 11, 2025

O Zé Povinho, as Caldas e o Grande Rafael


Não é habitual falar de duas exposições em dois dias, mas como passei pelas Caldas da Rainha, aproveitei para ver a mostra artística e histórica que está patente ao público no CCC, "Zé Povinho, uma História com 150 Anos", com curadoria de Jorge Silva.

Gostei muito do que vi. Já sabia que o Zé Povinho era a figura mais caricaturada no nosso país, ao longo do tempo, mas não imaginava que até tinha sido capa de revistas como a "Gaiola Aberta" ou o "Riso Mundial".

Tudo isto graças ao grande Rafael Bordalo Pinheiro, que, além de ser o pai de muitas coisas no nosso país, inclusive da Banda Desenhada, escolheu as Caldas para começar a trabalhar na indústria da cerâmica. O Artista acabou por oferecer um novo cunho artístico às faianças da ainda Vila, ao mesmo tempo que dava uma nova vida ao Zé, oferecendo-lhe a tridimensionalidade que não possuía.

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


quinta-feira, julho 10, 2025

"Munngano (1975-2025)" na Sociedade Nacional de Belas Artes


Marcámos encontro na Sociedade Nacional de Belas Artes, para ver a exposição "Munngano (1975-2025), 50 anos de história, arte e cultura de Moçambique Independente".

Não foi só uma bela surpresa (tanta coisa bonita...), descobrir tantos artistas moçambicanos de grande talento, foi bom olhar e conversar sobre muitas das pinturas, desenhos e esculturas em exposição.


E claro, ir ainda mais longe, falar ligeiramente das polémicas sobre o colonialismo e a arte africana (não tivemos dúvidas que todos os trabalhos artísticos feitos por moçambicanos, com um matriz cultural local, deverão regressar ao país de origem, desde que este tenha condições para a acolher em museus).

Como normalmente visito exposições a solo, já não me lembrava do bom que é ter companhia para conversar, criticar e sorrir...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, julho 09, 2025

O tempo em que ninguém "cora de vergonha"


Achei no mínimo curiosa a afirmação de Hugo Soares, de que o PS devia "corar de vergonha" em relação ao INEM e aos problemas do SNS no país. Nunca percebi porque razão os socialistas não respondem a estas provocações rasteiras, históricas. Mesmo não sendo eleitor do PS, faz-me muita confusão esta maneira "soft" de fazer oposição. Gostaria era de ver esta ministra e este Governo a terem de enfrentar uma pandemia. De certeza que seria o caos em todos os hospitais e centros de saúde, de Norte a Sul...

Mas o mundo esta ainda mais confuso e estranho que o nosso país. Sei que a proposta de Benjamin Netanyahu para a atribuição do Prémio Nobel da Paz a Donald Trump, é quase uma piada de mau gosto, e que vale o que vale, ainda por cima feita por um genocida. Já todos percebemos, que tanto um como o outro, dificilmente coram de vergonha. O curioso é saber se esta proposta merece sequer a ponderação dos suecos. Estamos a falar do cúmplice de toda a tragédia de Gaza, do autor de um dos ataques ao Irão e do responsável pela perseguição a praticamente todos os emigrantes dos EUA. Tudo coisas pacifistas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, julho 08, 2025

Saúde: demagogia e desperdício a mais e competência a menos


A saúde e a justiça retratam de uma forma, cada vez mais nítida, a acção demagógica e incompetente dos partidos de poder e dos políticos, nestas duas áreas fundamentais da nossa sociedade, pelo menos nos últimos trinta anos.

Embora possa ser injusto atribuir todas as culpas à ministra em exercício, se o seu mandato fosse exercido com demagogia a menos e competência a mais, talvez as coisas não tivessem piorado tanto no último ano (embora o PSD insista no seu contrário...). A sua primeira preocupação foi "provocar" a demissão do director geral, Fernando Araújo, com quem tinha tido problemas anteriores enquanto administradora hospitalar, e não dialogar com ele e tentar aproveitar o que se estava a fazer de positivo no sector.

É por isso que, quando se diz que o seu papel enquanto ministra é "destruir o Serviço Nacional de Saúde e entregar de mão beijada os serviços mais lucrativos ao sector privado", poderá ser exagerado, mas... 

Mas a realidade é o que é, e os hospitais e clínicas dos dois principais grupos privados da saúde, continuam a crescer, de Norte a Sul. Ao mesmo tempo que os meios do SNS continuam a ser escassos, com muitas das nossas urgências a fecharem aos fins de semana, com o argumento da falta de médicos.

É muito estranho que este problema se tenha agravado nos últimos anos e que a própria profissão de médico, tenha passado, aparentemente, a ser um serviço público normal, como se fosse um simples trabalho "das nove às cinco"...

E se é verdade que nunca se gastou tanto dinheiro na saúde como na actualidade (sem que se nota qualquer melhoria nos serviços...), é óbvio que terá de existir muita incompetência e desperdício de meios, tanto no Ministério da Saúde como nas administrações hospitalares. Graças aos nossos dois maiores partidos...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, julho 07, 2025

«Já não posso ter a minha opinião?»


O meu corte de cabelo hoje foi um pouco mais agitado que o costume.

Assim que o meu barbeiro começou com o já habitual "discurso anti-emigrantes", comecei a desmontar uma boa parte das suas teses populistas com a realidade, com as aldeias e os campos que quase só albergam gente idosa, pelo que a mão de obra tem de ser obrigatoriamente estrangeira. Acrescentei que esta também era a escolha preferida dos exploradores da agricultura intensiva, porque assim têm sempre a possibilidade de ter metade dos seus trabalhadores em situação ilegal, o que lhes poupa uns cobres no pagamento para a segurança social e para as finanças.

Claro que ele não gostou de ser contrariado. Ninguém gosta. Foi por isso que se escudou na frase: «Já não posso ter a minha opinião?»

Claro que pode. Em democracia pode-se quase tudo, até navegar no erro e mostrar a nossa "costela revolucionária", quase a par com a nossa "costela reaccionária"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, julho 06, 2025

Os comboios que só passam uma vez na nossa estação...


Conheço a Sandra há quase trinta anos. Falamos menos do que devíamos, em parte porque a minha companheira nunca lhe achou muita piada. E a maior parte das vezes que nos encontramos no café, que partilhamos ao fim de semana, estou acompanhado.

Às vezes somos surpreendidos pelo meio da semana que nos marca lugar na esplanada do nosso café e colocamos a conversa em dia.

Foi o que aconteceu na última vez que nos encontrámos. Estávamos os dois sozinhos e para não sermos egoístas, ocupámos a mesma mesa. Foi bom, falámos de tudo e mais alguma coisa, menos dos papeis secundários que ela passa a vida a fazer, tanto no teatro como nas telenovelas. Não é por falta de talento ou de graça, é porque "nunca calhou" e porque "agora começa a ser tarde".  Sim, a Sandra já está a aproximar-se dos cinquenta, uma idade terrível para as actrizes...

Às vezes penso na quantidade de gente com talento que conheço, que não conseguiu chegar à parte do céu onde poisam as estrelas. Como o Gui diz, muitas vezes, há comboios que só passam uma única vez na nossa estação...

Mas não é apenas isso...

Por uma questão de educação, personalidade, e sobretudo dignidade, não conseguimos "fazer tudo", muito menos irmos na conversa das pessoas que estão quase a "cobrar bilhetes", à entrada da "carruagem dos nossos sonhos". 

E o tal lugar estrelar, vai ficando, cada vez mais longe para a Sandra, como ficou para a Luísa ou para o João e para tantas outras pessoas, que passam o tempo a "lamber as feridas"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, julho 05, 2025

As "duas vidas" do cinema português, uma para o povo e outra para intelectuais...


Desde que me interesso por cinema, que assisto a discussões intermináveis sobre as fitas portuguesas e os nossos realizadores.

O Mestre Manoel de Oliveira foi sempre uma das figuras mais contestadas, até pelos seus pares, porque a inveja sempre foi, e será, aquela coisa pequenina e quase "terrorista". Embora lhe reconheça alguma lentidão e fixação exagerada nos planos (o que para os seus admiradores mais pacientes é poesia...), ele sempre teve uma ideia  do que é cinema. Ou seja, o seu passado e presente, mereceram todo o apoio que teve, e não apenas para que Oliveira ficasse no "guiness" como o realizador com mais idade e experiência da Sétima Arte. Quem tem um mínimo de conhecimento do que é Arte, sabe que o Mestre Manoel foi um dos nossos melhores artistas.

O que normalmente se discute é o "cinema de autor" e o "filme comercial", como se estes fossem inimigos e não pudessem conviver uns com os outros. E como em tudo na vida, as posições de quem faz estes filmes, em vez de se irem aproximando, vão ficando cada vez mais distantes. O ideal era que não se fizesse cinema apenas para o nosso imaginário (umbigo talvez ficasse melhor...), nem se explorasse tanto o que existe de mais popularucho (a graçola manhosa a querer imitar os senhores Santana e Silva, mas muito longe da sua qualidade...). Ou seja, que se pensasse a sério nos espectadores. Mas o mundo é o que é...

Estou a escrever sobre cinema, porque há dois filmes portugueses em exibição que têm sido olhados de forma diferente pelos críticos. Falo de Portugueses de Vicente do Ó e de A Vida Luminosa de João Rosas. Se o primeiro tem sido "deitado abaixo", o segundo tem sido apreciado pela maioria das pessoas que escrevem nos jornais sobre cinema.

Embora compreenda a "defesa" do filme feita por Vicente (também nos jornais), não acho que ele ganhe alguma coisa em se preocupar mais com terceiros que em explicar as coisas menos compreensíveis do seu filme. 

E pelo que tenho lido, se há fita que seja capaz de me levar de regresso às salas, será A Vida Luminosa do João, porque se aproxima mais do que gosto de ver e sentir no cinema.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, julho 04, 2025

Pode-se saber muito sem abandonar o "planeta terra"...


Eu sabia que podia ser uma chatice sabermos muito sobre um assunto qualquer, podíamo-nos tornar condescendentes com os outros, mesmo sem nos apercebermos. E se tivéssemos os hábitos de "professor universitário" de raramente "descermos as escadas" ou "apanhar o elevador", para voltar à terra e falar com os comuns, ainda pior.

Felizmente, há mais mundo nas ruas e nos transportes que nos levam, aqui e ali. Pode ser uma sensação de liberdade, quase indescritível, abandonar os gabinetes e as conversas chatas com os "sabões" e ir ao mercado, comprar cebolas, carapaus, sentir que é possível aprender com aquela gente despachada, e tantas vezes desbocada, que começa a sua "luta diária" ainda antes do sol nascer e mesmo assim consegue sorrir à vida.

 Claro que isto são palavras de "um não especialista", que cada vez mais, passa a vida a olhar os outros, a sentir o mundo a mexer-se, a uma velocidade que já não consegue, nem quer acompanhar. Mas está longe de ser um desistente, continua a caminhar e a olhar com nitidez para o que se passa à sua volta.

É por isso que fico feliz, por alguém, como o meu irmão, com uma carreira no ensino, de mais de quatro décadas, a maior parte dela passada na universidade, nunca ter perdido o nome próprio e passado a ser o "doutor"...

Claro que sei que isso também se deve aos meus queridos pais, e numa percentagem menor, aos meus avós maternos, que sabiam tanto, mesmo sem terem tido a possibilidade de conhecer as escolas por dentro, na sua infância.

(Fotografia de Luís Eme - Minho)


quinta-feira, julho 03, 2025

Um dia, no mínimo, estúpido...


O país acordou com duas notícias, que foram exploradas ao máximo pelas televisões, de manhã à noite: a morte de Diogo Jota e o começo do julgamento de José Sócrates.

É sempre estranho e tocante, quando alguém morre jovem. E se esse alguém é um conhecido de todos nós, como é o caso de Diogo Jota, um dos nossos melhores avançados, presença habitual na selecção e atleta do Liverpool, o campeão inglês na época que acabou, tudo piora... O seu irmão André, ainda mais novo que ele e menos conhecido, acompanhou-o neste infortúnio, que teve lugar numa autoestrada espanhola, quando tentavam regressar a Inglaterra.

Tantas questões que ficam no ar, sem respostas. É sempre assim...

Em relação a Sócrates, que mais uma vez contribuiu para o espectáculo, falando aos jornalistas (com a "cassete" do costume...), antes e depois deste primeiro dia, só tenho quatro palavras para o catalogar: é um excelente actor (podia andar a fazer telenovelas e estupidamente foi para a política)!

A única coisa que sei, é que, aconteça o que acontecer, tanto Sócrates como a justiça (e até as televisões "justicialistas" dos directos no aeroporto e afins...) nunca mais conseguirão ficar "bem na fotografia". 

Sim, é impossível alguém sair-se bem num caso como este (por vezes fico com a sensação de que a justiça fez quase tudo ao contrário, acabando por beneficiar Sócrates...), que promete arrastar-se por mais alguns anos...

(Fotografia de Luís Eme - Oeste)


quarta-feira, julho 02, 2025

«A verdadeira crítica não tem de ser feliz ou infeliz, tem de ser honesta.»


O mais curioso na conversa, foi aquele que continua a ser um dos nossos "escribas de eleição", o MEC (Miguel Esteves Cardoso), que mantém uma coluna diária no "Público", ser alvo de algum escárnio e mal dizer, por duas ou três pessoas.

Todos sabíamos que «a verdadeira crítica não tem de ser feliz ou infeliz, tem de ser honesta», como a Carla afirmou. Mas quando se escreve nos jornais há quase 50 anos (é o caso do MEC, que passou pelo "O Jornal", "Sete", "Expresso", "O Independente" e agora o "Público"), é difícil escrever de uma "forma azeda", ainda por cima quando se gosta das palavras, das pessoas e das coisas.

Acabei por ficar a pensar no assunto, entre as viagens de metro e cacilheiro, para a minha margem. Até me recordei das palavras do Miguel, numa entrevista, já com alguns anos, em que ele admitia que a melhor maneira de criticar alguém, era não o conhecer, nunca ter falado com ele. Porque depois descobre-se que as pessoas até são simpáticas e torna-se tudo mais difícil...

Fiquei em silêncio durante a conversa. Poderia ter dito que o Miguel conquistou o direito a escrever sobre coisas que lhe agradam, mas que deixara de ser "crítico" (pelo menos como se entende a função).

E há ainda outra coisa. Mesmo sem nunca ter falado com o Miguel, nem tão pouco o conhecer, apenas de vista, não tenho grandes dúvidas de que ele é boa pessoa. É o que mais se destaca das suas palavras diárias.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa) 


terça-feira, julho 01, 2025

Olhar, ouvir e ficar a pensar no fim das coisas...


Havia alguma ironia e até humor, na forma como a mulher de idade falou, no balcão da velha drogaria: «Um dia acaba-se tudo, pelo menos para quem acredita que só temos uma vida.»

A frase ficou no ar, não pelos mesmos motivos que foi dita. Sim, eu em vez de me virar para as pessoas pensei logo noutras coisas, assim que comecei a caminhar pela rua.

Comecei por pensar logo na coisa mais difícil e estranha, que um ou outro entendido resolveu atirar à parede, "o fim da história". Não foi dita em jeito de piada, mas só podia ser da família, pois enquanto existirem seres humanos, haverá história...

Depois caminhei para coisas mais simples. Tenho a certeza que não foi Camões que inventou a frase feliz de que "mudam-se os tempos mudam-se as vontades...", a principal responsável pelo final de vida de tantos objectos, de profissões que deixam de fazer sentido (embora aqui seja mais a economia que "mate" alguns trabalhos que se tornam obsoletos ou pouco lucrativos...).

E só não acabam mais coisas, porque agora também se vive das "tradições", que começam a ter mais peso comercial que histórico. E ainda bem, porque além de darem vida a lugares esquecidos, também nos recordam como se vivia noutros tempos. 

E o mais curioso, é trazerem atrás de si o começo de outras coisas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)