quarta-feira, setembro 17, 2025

«O que seria de nós, sem as utopias?»


Os nossos filhos discutiam, acaloradamente, estes momentos estranhos que vivemos.

Faziam viagens rápidas, ora pelos EUA de Trump, com passagens por Gaza, e depois, faziam várias paragens pela Capital, a deles, a do "zé das moedas"... e claro, a dos outros.

Às vezes quase que gritavam. Percebíamos que raramente estavam de acordo. Quando tens vinte anos, quase que queres obrigar os outros a pensarem como tu...

Andei para trás no tempo e pensei que talvez fosse pior que eles, com aquela idade, tanto no ambiente de trabalho como em família. Quando comecei a trabalhar, a sério, era o "menino". Os outros rapazes, também jovens, levavam-me no mínimo quatro anos de avanço. Isso fazia com que houvesse alguma condescendência pela minha juventude e rebeldia. Em família, nem por isso. Um ou outro tio, achava que era demasiado novo, para falar disto ou daquilo. Talvez tivessem um bocado de razão. Um bocado não, apenas um bocadinho.

Quarenta anos depois, ali estava eu, a assistir aquele espectáculo raro, ver a nossa juventude a falar e a pensar, em vez de estarem ligados ao rectângulo do costume, com umas coisas nos ouvidos.

Percebia à légua que a minha filha era a "rainha das utopias". A mãe disse-me qualquer coisa, que estava ligada ao mundo dos sonhos.

Eu limitei-me a sorrir e a dizer: «O que seria de nós, sem as utopias?»

(Fotografia de Luís Eme -  Caldas da Rainha)


3 comentários:

  1. Como já está longe da casa dos vinte o meu filho é muito mais terra a terra do que eu.
    Ele vê sempre os dois lados do problema, enquanto eu continuo sempre do lado dos mais fracos.

    Abraço

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    1. O lado dos fracos não é utopia, é o lado dos fracos.

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