sexta-feira, setembro 19, 2025

Um grande jornalista desmonta, num excelente livro, o maior embuste da nossa democracia: o Chega


Embora algumas personagens fabricadas pela televisão, acreditem que é no "espelho", que está o segredo do sucesso, que basta dizer muitas vezes à imagem que aparece à nossa frente, quase, quase, igual a nós, que somos os melhores, que nos tornamos uns "gigantes", elas sabem que não é suficiente. Por muitos disfarces que usem falta sempre qualquer coisa...

O que nos torna realmente grandes, é o nosso trabalho, aquilo que fala por nós, sem ter à frente e atrás o nosso retrato.

Eu já sabia que o Miguel Carvalho era um grande jornalista. E fiquei a saber que também era um grande ensaísta e investigador, quando escreveu um livro único sobre o Verão Quente. Livro que deve ser amaldiçoado por todos aqueles que agora tentam agarrar com as duas mãos o 25 de Novembro de 1975, mesmo que nesses tempos andassem mais entusiasmados em queimar sedes do PCP na região Norte, que em participar em golpes revolucionários (a participação do PPD no 25 de Novembro é residual e a do CDS praticamente nula...). Estão lá os nomes todos...

Falo de Quando Portugal Ardeu - Histórias e Segredos da violência Política no pós-25 de Abril.

E agora voltou a oferecer-nos outro grande livro, cheio de peripécias. Falo de Por Dentro do Chega - a Face Oculta da Extrema-direita em Portugal.

Falo em "grande", não pelo tamanho (mesmo que ultrapasse as setecentas páginas...), mas pela qualidade, pelo excelente trabalho de investigação realizado. 

As ameaças, os boatos e as perseguições feitas ao Miguel, promovidas por este grupo de malfeitores que anda por aí disfarçado de partido político, com o sucesso que todos conhecemos, não conseguiu vencer a realidade nem a história. 

Sim, neste livro não se poupa qualquer palavra sobre o antes e o durante de uma quase "seita", que nunca escondeu ao que vinha, nem por quem era patrocinada, embora ande por aí demasiada gente distraída. Gente que além de adorar mentiras, parece estar saudosa dos regimes autocráticos...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, setembro 18, 2025

Dias de "São Mourinho"...


Ontem e hoje o país foi quase só "José Mourinho", que regressou a Portugal, para treinar o Benfica.

Confesso que depois dos dois últimos jogos dirigidos por Bruno Lage, pensei que era boa ideia começar a  deixar de gostar do Benfica. Como se isso fosse possível...

Pensei nisso, mais a pensar nas exibições que nos resultados, mesmo que as derrotas do Caldas e do Benfica, normalmente me deixem triste. Sabia que o treinador tinha os dias contados, por falar de mais e a equipa jogar de menos, e claro, por estarmos cada vez mais perto das eleições.

Eleições com uma mão cheia de candidatos. Não compreendo o regresso de Vieira, que é passado. Embora goste de Rui Costa, sei que tem cometido demasiados erros como presidente. Penso que uma mudança era bem vinda, para acabar de vez com hábitos antigos.

No campo técnico acredito que o Benfica vai mudar para melhor, mas também sei que o futebol de Mourinho não vai rivalizar com o de Jorge Jesus, que mostrou a todos os benfiquistas que era possível ganhar e dar espectáculo para as bancadas, distanciando-se em qualidade do vulgar jogo do "chuto na bola".

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, setembro 17, 2025

«O que seria de nós, sem as utopias?»


Os nossos filhos discutiam, acaloradamente, estes momentos estranhos que vivemos.

Faziam viagens rápidas, ora pelos EUA de Trump, com passagens por Gaza, e depois, faziam várias paragens pela Capital, a deles, a do "zé das moedas"... e claro, a dos outros.

Às vezes quase que gritavam. Percebíamos que raramente estavam de acordo. Quando tens vinte anos, quase que queres obrigar os outros a pensarem como tu...

Andei para trás no tempo e pensei que talvez fosse pior que eles, com aquela idade, tanto no ambiente de trabalho como em família. Quando comecei a trabalhar, a sério, era o "menino". Os outros rapazes, também jovens, levavam-me no mínimo quatro anos de avanço. Isso fazia com que houvesse alguma condescendência pela minha juventude e rebeldia. Em família, nem por isso. Um ou outro tio, achava que era demasiado novo, para falar disto ou daquilo. Talvez tivessem um bocado de razão. Um bocado não, apenas um bocadinho.

Quarenta anos depois, ali estava eu, a assistir aquele espectáculo raro, ver a nossa juventude a falar e a pensar, em vez de estarem ligados ao rectângulo do costume, com umas coisas nos ouvidos.

Percebia à légua que a minha filha era a "rainha das utopias". A mãe disse-me qualquer coisa, que estava ligada ao mundo dos sonhos.

Eu limitei-me a sorrir e a dizer: «O que seria de nós, sem as utopias?»

(Fotografia de Luís Eme -  Caldas da Rainha)


terça-feira, setembro 16, 2025

Robert Redford: um dos raros actores que era tão, ou mais importante, que os filmes onde brilhava...


Embora este "Largo" tenha "Memória", ultimamente não tem feito homenagens às pessoas com mais de "dois metros", que nos vão deixando, como aconteceu agora com Robert Redford.

Redford foi muito mais que um actor bonito, conseguiu acrescentar sempre algo, aos seus papeis no cinema. Foi um dos raros actores que conseguia ser tão ou mais importante, que os filmes que protagonizava. São muito poucos os que têm este talento. Os primeiros nomes que me ocorrem são os de Robert De Niro e Meryll Streep, mas há também um Tom Hanks ou um Al Pacino, e pouco mais... 

Não esqueço Os Homens do Presidente, um filme de culto do jornalismo e da política (foi exibido, estudado e criticado no Curso de Jornalismo que fiz no Cenjor...). Embora ele tenha deixado a sua marca em todos os filmes que entrou (largas dezenas), mesmo os mais banais.

Além de actor também dirigiu alguns filmes, tendo mesmo ganho o óscar de melhor realizador com Gente Vulgar (que também foi melhor filme).

Mas Robert Redford não se ficou por Hollywood, nem viveu à sombra dos seus louros ou da sua imagem, foi o principal responsável pela criação do melhor festival de filmes independentes dos Estados Unidos da América, o Sundance Film Festival.

(Fotografia de autor desconhecido - uma cena de Os Homens do Presidente, onde contracenou com Dustin Hoffman)


segunda-feira, setembro 15, 2025

Foi aberta a nossa "caixa de pandora"...


As acusações contra um actor e encenador do Porto abriu a nossa "caixa de pandora", onde estão guardados muitos dos casos de assédio e de abusos sexuais do nosso mundo artístico.

Pensava que as histórias que ouvia falar, aqui e ali, iam ficar perdidas no tempo (embora nunca fossem esquecidas pelas vítimas...), porque a globalização e a a popularidade das redes sociais tinham acabado com o nosso tradicional atraso entre países como os  EUA ou o Japão.

Parece que estava enganado. Pelo menos é o que a realidade conta. O "Me Too" está a chegar, com o atraso do costume...

Sim, as denúncias públicas e a desmontagem dos método de trabalhos da escola de teatro do Porto,  onde o assédio e a humilhação, fizeram parte do dia a dia dos alunos (preferencialmente os mais bonitos e mais frágeis), durante anos, parecem ter chegado em força. E o mais provável é que não se fiquem apenas por um actor ou encenador...

Sempre achei estranho que apenas as mulheres se queixassem do abuso de homens, quando os maiores escândalos (e perversões...) sexuais se passavam no mundo masculino, pelo menos nas artes cénicas e na moda (nas europas, nas américas e nas ásias...).

Quem conheceu e conhece (as coisas não devem ter mudado assim tanto...), ainda que de uma forma leve, os bastidores do meio mais apetecível e popular do espectáculo, a televisão, sabe que este sempre foi dominado pelo chamado "lobby gay". E sabe também como se "abriam e fechavam portas"...

A questão que acaba por ficar no ar, é se todas estas denúncias vão ficar apenas por um único caso...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, setembro 14, 2025

«Não. O futebol não é uma arte. É apenas um jogo, que por vezes é jogado por um ou outro artista.»


Por ter feito jornalismo desportivo e por nunca ter sido um adepto ferrenho (tanto do Caldas como do Benfica...), normalmente, discuto futebol sem grandes estados de alma.

Foi por isso que não me manifestei muito no começo da discussão sobre se esta modalidade era um arte ou um simples jogo. Só depois de uma acesa troca de palavras entre os meus amigos Jorge e Gonçalo, é que resolvi "desempatar"...

Claro que lhe faltam vários parâmetros para entrar no mundo das artes. O principal talvez seja o facto de ter um número muito reduzido de artistas, a maior parte dos jogadores limitam-se a ser bons profissionais, cumprindo a sua missão sem terem a preocupação de "fazer arte". 

Foi por isso que disse: «Não. O futebol não é uma arte. É apenas um jogo, que por vezes é jogado por um ou outro artista.»

Depois falámos dos ordenados obscenos que se pagam aos futebolístas, tal como da desculpa, quase esfarrapada, de que é um negócio que movimenta milhões. De facto o futebol movimenta muito dinheiro, só que este está longe de ser bem distribuído. A maior parte dos clubes têm de inventar mais do que deviam, entrando inclusive em alguns negócios no mínimo pouco claros, para conseguirem equilibrar as contas. E mesmo assim, os  passivos são quase sempre superiores aos activos...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


sábado, setembro 13, 2025

As artes e as letras como "ganha-pão" (ou não)


Eu sei que, de certa maneira, sou um purista (para outros costumo ser coisas piores...), por não conseguir olhar para o mundo das artes e letras como uma profissão igual às outras.

Claro que sei que quem escreve, quem pinta, quem canta, quem faz teatro, tem de viver como as outras pessoas, ou seja, tem de ganhar dinheiro com as suas actividades criativas. E também sei que se quiser ser alguém, acima da média, não pode continuar a ser artista apenas ao final do dia ou aos fins de semana.

O curioso é que estas discussões normalmente não nos levam apenas a um lado, são demasiado complexas para se ter um olhar simples. Não deixou de ser curiosa a expressão do Jorge, de que apenas alguma boa fotografia e algum bom cinema, são a preto e branco. E mesmo esses nunca dispensam os cinzentos...

Todos conhecemos pessoas que pintavam apenas para vender. E quando o mercado encolheu, muitos arrumaram os pincéis e as tintas  e começaram a fazer outras coisas, que lhe pudessem ajudar a pagar a renda. O Gonçalo atreveu-se a dizer que os pintores eram pessoas diferentes, para levar logo de seguida com o exemplo do Manuel Ribeiro Pavia, que morreu à mingua. E logo ele que se fartou de trabalhar, de fazer capas de livros e ilustrações para escritores, uns amigos outros apenas conhecidos, sem ter tabela de preços. Como a maioria só se lembrava do Manel Pavia quando precisava, ele foi embora quase sem que se desse por isso...

E depois houve alguém que trouxe o futebol para a mesa. E lá se começou mais uma discussão daquelas, porque para uns este desporto era uma arte e para outros apenas um jogo...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, setembro 12, 2025

A bagunça ideológica e política em que estamos metidos...


A morte de um político conservador numa universidade norte-americana, diz muito de como vai este mundo, povoado de radicalismos, tanto à direita como à esquerda.

Não vou falar do apoiante de Trump, mas sim destes tempos, em que, em vez de se respeitarem pontos de vista diferentes, se apontam dedos e se lançam boatos, quase sempre sem sentido, sobre as pessoas de que não se gosta e que pensam de maneira diferente. E neste caso, prefiro fixar-me na actualidade do nosso país.

O maior exemplo desta bagunça ideológica, começa e acaba no líder do nosso partido de extrema-direita. Nunca nenhum político mentiu tanto, e em vez de ser penalizado, recebeu créditos pelas suas demasiadas deturpações da realidade. Ainda esta semana falou erradamente de gastronomia e não de cidadãos, para criticar a visita do nosso Presidente da República à Alemanha, que segundo o seu ponto de vista viaja demasiado (mas nunca as 1500 difundidas por ele, afinal são apenas 160...). Como sempre, não se retratou das duas mentiras que disse sobre apenas um tema...

O mais curioso, é que hoje apareceu pela primeira vez à frente nas sondagens realizadas para primeiro-ministro.

Não sei o que se passa na cabeça dos portugueses, cuja maioria vive com dificuldades, mas mesmo assim, prefere ir atrás das mentiras de um "bando de gente execrável" - esta semana foi também conhecida mais uma faceta criminal de um candidato às autárquicas deste partido -, que tem tentado virar o Parlamento de pernas para o ar e que se percebe, que mesmo sem estar no poder, já se sente "acima de qualquer lei"...

Talvez hoje tudo seja possível, até a passagem do Seixal, directamente da CDU para o Chega (este partido ficou em primeiro lugar nas eleições para as legislativas neste Concelho...), nas próximas autárquicas...

(Fotografia de Luís Eme - Seixal)


quinta-feira, setembro 11, 2025

Os bairros não são as aldeias que pensamos (e sonhamos)...


Os bairros não são as aldeias que pensamos.

O bom dia e boa tarde, muitas vezes são enganos. Cumprimentamo-nos mais por empatia e hábito, que por outra coisa. Se pensarmos um pouco, não sabemos quase nada (ou mesmo nada...), destas pessoas com quem nos cruzamos diariamente.

Quem sabe muitas coisas é o ainda jovem merceeiro do bairro, que de vez em quanto fala-me que fulano é filho de sicrano, por me ter cruzado com alguém que me olha como se me conhecesse, sem que saiba alguma coisa da sua vidinha.

Quando nos deixamos de cruzar com estas pessoas, se já tiverem alguma idade, percebemos que desapareceram de circulação. Aconteceu com uma das personagens mais divertidas da rua de baixo, um antigo canalizador que adorava contar anedotas, de todos os géneros. Vivia sozinho e depois de uma queda em casa, os filhos colocaram-no num lar. Esteve lá apenas um mês...

Soube disto na mercearia, que graças à simpatia do dono, vai resistindo ao tempo e às pequenas e médias superfícies que se instalam por todo o lado. 

Ela é quase uma "âncora", onde as pessoas ainda se encontram para falar e saber novidades da vizinhança, mesmo que apenas comprem um pacote de arroz ou o pão para o lanche. Felizmente faz-nos navegar no engano e pensar que os bairros ainda são as aldeias dos nossos imaginários...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, setembro 10, 2025

«Falamos tantas vezes das coisas que não sabemos. Quase sempre, estupidamente.»


Um homem muito delicado e com alguma idade parava diariamente na esplanada do café, quase escondido, onde a Rita toma o primeiro café do dia. 

Um dia qualquer reparei que deixara de aparecer e perguntei à Rita por ele. Ela disse-me que falecera, há menos de um mês.

Nesse momento, senti-me estranho, por o conhecer durante meia dúzia de anos e nunca ter trocado uma palavra com ele, muito menos conversado. As palavras dele eram todas para a Rita, como se me quisesse meter ciúmes. Às vezes referia-se a mim na terceira pessoa, do género "o seu amigo isto ou aquilo". Eram sempre coisas simples e agradáveis, que apanhava das nossas conversas e que faziam a Rita sorrir. 

Depois a minha amiga fez um ligeiro esboço biográfico do homem bem vestido que eu apenas sabia que gostava de ler o "Público", no começo da manhã. 

Publicitário e poeta como o grande O'Neill (trabalhou com ele no começo...), deixava viúva uma professora e também duas filhas e um neto, que nunca conhecera. Uma vez ele ofereceu-lhe um livro, com uma dedicatória deliciosa...

Não falámos da sua aparente ambivalência sexual. Não era necessário.

Foi quando a Rita disse: «Falamos tantas vezes de coisas que não sabemos. Quase sempre, estupidamente.»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, setembro 09, 2025

«A "estação das chuvas" é igual às outras coisas, foi forçada a mudar, a adaptar-se...»


Costuma-se dizer que fala e escreve sobre o tempo, quem não tem mais nada para dizer.

É apenas um lugar-comum, que não tem de ser, nem é, tantas vezes verdadeiro.

Se estiveres sentado com uma pessoa que sabe mil e uma coisa que desconheces sobre aquilo que chamamos "tempo", que é quase sempre mais coisas que o uso que damos esta palavra simples. Sim, não fica presa apenas ao sol, à chuva,  ao vento, ao calor ou ao frio...

Alguém disse que amanhã ia chover. Ninguém estranhou. Talvez pensássemos que chovera de madrugada durante o fim de semana e que também não se estava à espera, Fingimos que não acreditamos nos meteorologistas, mesmo que estes tenham uma tarefa mais difícil e sejam muito mais fiáveis que há vinte ou trinta anos. de domingo na manhã de sábado que acordámos.

O que ficou desta visitante-surpresa, foi uma frase simples, tão definidora: «A "estação das chuvas" é igual às outras coisas, foi forçada a mudar, a adaptar-se...»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, setembro 08, 2025

Pouco mudou na mentalidade do empresário português


O que se passou no Oeste na semana passada, com a descoberta de imigrantes ilegais acampados, junto às instalações de uma empresa que explora o cultivo e a apanha da pêra rocha, é um bom exemplo do que se passa no chamado trabalho sazonal agrícola, um pouco por todo o lado.

Se for possível fugir ao pagamento de impostos, mantendo apenas uma parte dos trabalhadores em situação legal, será essa a prática do empresário  português (e também de outras nacionalidades, porque as más práticas "copiam-se", cada vez mais...).

Infelizmente, longe vão os tempos em que o empresário estrangeiro instalava-se em Portugal e era um exemplo nas boas práticas e boas condições que ofereciam aos seus trabalhadores.

Se a entrada na Europa trouxe para o meio empresarial gente nova com uma outra mentalidade e cultura económica, acabando com muitas empresas quase de "vão de escada", passados alguns anos, com o avanço do chamado "capitalismo selvagem", as más práticas regressaram em força ao mundo fabril. Uma das piores consequências foi a normalização do trabalho precário, com os trabalhadores a passarem a ser meros colaboradores...

A aposta no "lucro fácil" encurta sempre a visão a médio e longo prazo dos nossos empresários, e explica em grande parte as dificuldades que o país tem em crescer e competir com a Europa e o Mundo.

(Fotografia de Luís Eme - Monte de Caparica)


domingo, setembro 07, 2025

Uma palavra curta e simples, que diz tanto de nós...


Ao ler o nome de um senhor, que ainda tive o prazer de conhecer, verifiquei que ele "apagou", desde cedo, a letra que fazia toda a diferença, socialmente. O DE desapareceu dos cartões de visita, dos seus escritos e até da assinatura  (deve ter ficado apenas no BI...), ao contrário dos irmãos. 

Fiquei a pensar que há pessoas que fazem exactamente o contrário, são capazes de "somar" um DE antes do apelido final, apenas por este lhe oferecer a ilusão de que descendem de "gente importante" e não das pessoas humildes que lhe deram o berço, mesmo que este não conste na cédula de nascimento.

E ainda fui mais longe. Fiquei a pensar como é que é possível, que uma palavra tão curta e tão simples, seja capaz de nos distinguir tanto, ideologicamente. Sim, traçar o lado que mais nos guia no dia a dia, o esquerdo ou o direito...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


sábado, setembro 06, 2025

As coisas que apanhamos no ar e as outras que "roubamos aos outros"...


Nunca foi tão fácil como hoje, apropriamo-nos das coisas que gostamos dos outros.

Trata-se de algo muito limitativo, aliás, todo este tempo que vivemos é demasiado limitativo. Nunca se seguiu tanto o outro, mesmo quando pensamos que estamos a ser originais.

Percebo que seja cada vez mais difícil pensarmos pela nossa cabeça. O mundo está organizado, para não termos tempo para isso, para "pensarmos pela cabeça dos outros", para sermos mais uma "maria que vai com as outras".

Há ainda "outra rua", onde se juntam para beber copos aqueles que preferem dizer que "já está tudo inventado". Só que o tudo, é sempre muito, em qualquer situação da nossa vida. 

O que importa é como as coisas nos aparecem na cabeça. Quando vêm ter connosco nos momentos que são só nossos, seja na varanda quando olhamos para rua ali ao lado ou para a outra cidade que se esconde quase na linha do horizonte e vemos coisas que mais ninguém vê, ou quando estamos deitados na cama, onde há todo o espaço do mundo para termos sonhos esquisitos. 

Nestas situações, as coisas são nossas, de certeza. Mesmo que sejam fruto de mil e uma influências, desde os livros que lemos às conversas que tivemos com os amigos, dentro de nós são nossas, até porque tiveram de passar pelo nosso "filtro", de gosto e de conhecimento...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


«Não te canses muito à procura da lógica das coisas...»


Há poetas que são mais de dizer e outros mais de escrever.

Conheço uns e outros, normalmente não moram em ruas parecidas nem vestem roupas feitas no mesmo alfaiate.

Os que dizem, misturam os seus poemas com os que mais gostam, dos outros, quase sempre gente com mais de dois metros de poesia.

Os que só escrevem, gostam de falar de outras coisas, ou então de permanecer em silêncio.

Já me devem ter dito mais de cinco vezes a frase que escolhi para dar título a estas palavras. Recordei-a dita pela boca de uma amiga que na passagem dos anos 80 para os 90, morava numa das casas mais pequeninas que conheci (se bem que na China ou no Japão pudesse passar por um apartamento familiar...).

Era uma mulher cheia de particularidades, que também gostava de me ler poesia. 

Curiosamente, a singularidade que mais recordo é o facto de termos dormido juntos também mais que cinco vezes e nunca a ter visto completamente nua. Só descobria a sua nudez através do tacto, era como se a luz tivesse algo de errado. Nunca levei isso para o seu corpo, que sabia que era bonito com e seu roupa...

Como costuma acontecer com os amores antigos, nunca mais nos encontrámos. O mais curioso, é que só penso nela por coisas muito singulares, diria mesmo, muito particulares.

E a frase que mais me aparece, misturada com o seu sorriso trocista e quase sem som, é esta: «Não te canses muito à procura da lógica das coisas...»

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


sexta-feira, setembro 05, 2025

E possível que exista uma explicação, mas...


Não me lembro de assistir a um qualquer campeonato da Europa ou do Mundo, em que uma equipa perde os três primeiros jogos e a seguir vai disputar o jogo dos quartos de final.

Curiosamente, ou não, estou a falar da Selecção Nacional de Hóquei em Patins, que perdeu os três primeiros jogos do Campeonato da Europa com a Itália, a França e a Espanha. Em vez de "ir para casa", depois de três derrotas, foi jogar com a Andorra o tal jogo dos quartos de final.

Devo ser muito estúpido, por não conseguir perceber a lógica deste campeonato. É como se já estivesse tudo combinado, antes do começo dos jogos. 

E também devo ser muito pouco "patrioteiro", por estar a falar deste assunto...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, setembro 04, 2025

Quando o "simbólico" parece ser a única coisa que nos resta...


Já todos percebemos que é muito difícil fazer alguma coisa contra o Israel, um estado militarizado há várias décadas, protegido pelos EUA, a principal potência do nosso planeta.

É por isso que a organização e participação na "Flotilha Humanitária", é um acto de grande coragem, generosidade e solidariedade (conta com a presença simbólica de três portugueses: Mariana Mortágua, Miguel Duarte e Sofia Aparício).

Lastimo a posição cobarde de Portugal e do ministro dos negócios estrangeiros (nem sei como não defendeu Trump depois do nosso Presidente da República lhe chamar um "activo russo"...), que além de não garantir a protecção diplomática dos três portugueses que participam nesta operação de paz, ainda acusou a coordenadora do BE de populista.

Espero que a grandeza da "Flotilha Humanitária" consiga deixar o Israel de mãos atadas, sem saber o que fazer com a situação...

Claro que sabemos que é apenas um acto simbólico, mas não devemos perder a esperança, até porque temos vários exemplos de que há ditadores e regimes que não começam a cair apenas pelo poder das balas, mas sim, por coisas bem mais simples, como uma banal queda de cadeira...

Nota: A única coisa que me apetece dizer sobre o acidente de ontem do Elevador da Glória, mesmo sem saber  ao certo o que aconteceu, é a dificuldade que temos em nos libertar dos facilitismos, que acabam por estar sempre ligados à maior parte das nossas tragédias.

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


quarta-feira, setembro 03, 2025

Esta coisa de termos um primeiro-ministro mentiroso (para felicidade de uns e tristeza de outros)


Desde que se tornou primeiro-ministro, Luís Montenegro tem sido apanhado a mentir, várias vezes. Ainda não chega aos calcanhares de Trump, mas para lá caminha, pelo menos nota-se que se esforça nos "treinos".

Os casos mais gritantes da sua fuga à verdade tem acontecido com o célebre "Spinunviva", que já nunca mais se descola da sua pele, mesmo que não use nem goste de tatuagens. Desde as mentiras iniciais (era uma empresa criada apenas para tratar dos seus "imóveis rústicos", que ficavam, salvo erro, em "Errabá-los" de cima e de baixo...), ao último caso, em que foi capaz de dizer uma coisa de manhã e o seu contrário à tarde (acesso às matrizes dos seus imóveis...).

Na saúde tem acontecido a mesma coisa. Mesmo que os dados estatísticos oficiais digam que há menos médicos de família e mais urgências fechadas, ele é capaz de dizer o contrário, com o seu inconfundível ar "falsamente sério".

Bem podem os meninos "huguinho", "pedrinho" ou "antoninho", aparecerem com as mãozinhas cheias de areia, para nos atirarem para os olhos, que já não resulta. Ganhámos reflexos suficientes para nos desviar das suas brincadeirinhas do jogo, "salva o chefe".

Pelo menos nesta coisa das "fugas à verdade", estamos bem alinhados com os grandes líderes mundiais, também temos um primeiro-ministro que gosta de dizer a sua mentirinha, com o ar mais sério do mundo, para felicidade de uns e tristeza de outros...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, setembro 02, 2025

As sociedades que se habituam a enganar-se a elas próprias...


Ainda não chegámos ao ponto de viver todos os dias como se estes fossem o primeiro dia de Abril, mas para lá caminhamos. É um facto. Nunca se conviveu tanto com a mentira como nos nossos dias.

E quando os exemplos "vêem de cima", das grandes lideranças mundiais, tudo se torna mais complicado...

Falámos nisso na nossa mesa onde a anarquia continua a gostar de reinar. O Carlos até foi capaz de dizer que «já ninguém organiza concursos de mentiras, porque é cada vez mais difícil ganhar a um Trump ou a um Ventura.» Sorrimos, porque continua a ser bom sorrir, principalmente quando se fala de assuntos sérios.

A Rita, acabadinha de chegar da Babilónia, disse que a mentira torna a vida mais fácil para toda a gente, desde o nosso primeiro-ministro, capaz de dizer com um ar sério, que a saúde está melhor no nosso país, ao drogado da esquina que pede sempre uma moedinha a quem passa, "para comer uma sandes e beber um copo de leite". 

Raramente chegamos a conclusões, do que quer que seja. Estávamos fartos de saber que uma vida demasiado certinha não é a coisa mais saudável do mundo, da mesma forma que viver todos os dias "uma vida que não é a nossa", se pode tornar algo cada vez mais problemático e perigoso (a chamada "bola de neve"...). 

E lá voltou o Carlos à carga: «É tudo uma questão de hábito. Somos todos freiras e frades, somos todos animais agarrados e vestidos de hábitos.» E lá veio mais uma risota colectiva. Muito gosta o nosso publicitário de nos fazer rir.

Vinha a caminhar pela Baixa no meio dos estrangeiros de pele branca e calções e vestidos às cores, quando pensei no quanto as pernocas da mentira tinham crescido e esta tinha deixado de ter a perna curta, nos últimos anos. E depois lá me agarrei à vidinha, que se tem tornado mais difícil para quase todos nós. 

Sim, é ela que dá resistência às sociedades que fingem que tudo vai bem, que se vão habituando a enganar-se a elas próprias, dia após dia...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, setembro 01, 2025

É tudo mais simples, até os "efeitos especiais"...


Os meus filhos espantam-se que eu seja capaz de parar o meu tempo e sentar-me no sofá a ver uma "coboiada", num dos canais do agora Star.

Nada daquilo lhes interessa, desde as histórias aos actores, passando pela simplicidade dos diálogos e dos planos de fundo (embora eu só veja os filmes bem realizados onde entram actores e actrizes que gosto. Não consigo ver,  por exemplo ,os westerns falados em italiano - têm demasiado "spaguetti"...).

Às vezes questiono-me, porque gosto destes filmes, alguns dos quais já vi mais de uma dúzia de vezes. Talvez esteja mais agarrado ao passado - ao que já não existe - do que penso. Ou então continuo a gostar das mensagens sociais que são passadas, bastante simples e directas. 

Mensagens que já quase ninguém liga (as guerras estúpidas que se estão a prolongar no tempo e a matar todos os dias inocentes são o melhor exemplo)...

Pegando nas minhas últimas palavras, isso nem devia fazer muito sentido, porque nestes filmes também se "mata por tudo e por nada". No entanto há qualquer coisa em bruto (e também brutal) nestas fitas, que nos ajuda a perceber a natureza humana, até onde vai a ambição e a maldade do homem, sem nos esconder nada, ao contrário dos muitos jogos de palavras da actualidade, onde ditadores como Putin ou Natanyahu, apesar de ser uns assassinos do piorio, são capazes de dizer com o ar mais sério do mundo, que "lutam pela paz"...

(Fotografia de Luís Eme - Óbidos)