sábado, maio 24, 2025

Quando a fotografia se torna bela e complexa em simultâneo...


O desaparecimento de Sebastião Salgado é um bom motivo para falar de fotografia, como arte, mas também como objecto de denúncia, de clarificação, porque o que ele mais gostava de retratar era um mundo desigual e devastador, graças à acção do homem, mas sempre a perseguir a diferença, a encontrar beleza mesmo no "inferno".

Penso que ele chegou onde mais ninguém foi (muitos nunca quiseram ir por aí, até por uma questão de filosofia de vida e do entendimento que tinham da imagem). Onde havia exploração, escravidão, devastação, miséria, ele foi lá, e tirou retratos a tudo e mais alguma coisa, sem estar preso a questões éticas e morais.

No meu caso pessoal, devo dizer que a partir de certa altura, comecei a desinteressar-me pela sua fotografia. Senti que aquilo era tudo muito igual, ou seja, ele já não me surpreendia com a beleza das suas imagens. 

Acho que isso aconteceu quando entrei mais dentro da fotografia. Fui educando o meu olhar, através da prática da fotografia e também de conversas com amigos fotógrafos (as conversas influenciam-nos muito, mesmo sem darmos por isso...), comecei a achar que as imagens de Sebastião eram demasiado encenadas. Até mesmo a miséria humana, não me parecia real, entre outras coisas, mesmo que o fotógrafo brasileiro tivesse sempre a arte como prioridade, no seu olhar...

É por isso que eu digo que a fotografia com Sebastião Salgado, ganha uma beleza única (os seus cinzentos são uma marca...), mas também se torna complexa, enquanto objecto social...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


2 comentários:

  1. Olhei para dezenas delas cheias do belo horrível, onde o preto, branco e cinza amplificam esse olhar crítico.
    No Facebook coloquei uma foto de " Fogo no deserto".
    Achei-a fabulosa - um pastor nómada, com um lenço branco a esvoaçar, um enorme rebanho e ao fundo as labaredas.

    Abraço

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