terça-feira, julho 29, 2025

Coisas "feias", num Verão pouco perfeito...


Eu sei que é feio ouvir a conversa dos outros, e ainda pior reproduzir o seu conteúdo, mas ninguém é perfeito...

A prenuncia do Norte não deixava dúvidas sobre a origem da mulher, que falava para toda a esplanada, apesar dos toques no braço de uma moçoila novita, que devia ser filha.

Quando olhei para a minha companheira, percebi que ela não fazia tenção de se levantar, perante a possibilidade de assistir a "teatro de borla". Além disso, nem sequer tive tempo para pensar, porque o tom de voz da senhora que devia ter ultrapassado os cinquenta anos de idade há pouco tempo, espantava qualquer tipo de pensamento para bem longe...

Um homem parou e perguntou-lhe pelo marido. Ela respondeu, sem olhar para ele: «sei lá onde é que anda esse estupor.» E ele seguiu o seu caminho, sem mais palavras.

Foi quando outra senhora, que falava de uma forma mais suave, trouxe para a conversa a nora, que a estava a virar do avesso, pois não fazia nadinha lá em casa.

E lá veio a resposta, para todos escutarem. «Vim uma vez de férias com os meus cunhados, jurei para nunca mais. Em vez  de criada de três, passei a ser criada de seis. A fina da minha cunhada, além de estragar as unhas a lavar a loiça, dizia que não sabia cozinhar para tanta gente.» Uma outra senhora interrogou-a, «E ficou-se?» A mulher ainda respondeu mais alto: «Isso é que era bom! Aproveitei a deixa e disse que ela tinha razão, era muita gente, o melhor era cada uma de nós cozinhar para a sua família. Sabe o que fizeram?» ninguém sabia, mas a resposta não tardou: «Começaram a ir comer fora. Foi um sossego lá em casa às refeições.» 

«No ano seguinte queriam mais férias com a Tina, mas eu mandei-os para o hotel. Lá é que eles estavam bem, não precisavam de mexer uma palha, tinham criados para tudo.»

Repetiu a expressão, «Está a ver o filme, não está?», pelo menos três vezes. Talvez a pensar na malta que estava na esplanada. E estávamos todos deliciados com a fita, mesmo quem fazia cara de caso...

Foi quando nos levantámos e seguimos viagem, ainda antes do "pano baixar"...

Enquanto caminhava fiquei a pensar que havia ali algo de mais feliniano que de "pátio das cantigas"...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


4 comentários:

  1. Apesar do "espetáculo" ainda podemos ficar felizes por haver gente a falar, mesmo a dizer mal da família, em vez de terem o nariz enfiado no telemóvel e em silêncio.
    Cada vez mais o silêncio se apodera dos grupos de pessoas à volta de uma mesa.

    Abraço

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    1. Também é verdade, Rosa.

      Não falam nem olham para o outro, a não ser para atirar um olhar "de quem não está ali para ser incomodado"...

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  2. Parece que essa Tina não aTina, é mais de desaTinar. Continuação de boas férias.

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    1. Há sempre uma "Tina" aqui e ali, sem querer afinar os travões, Pedro. :)

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