segunda-feira, dezembro 08, 2025

«Passei quase toda a vida a correr à frente e atrás dos homens»


Bastou a passagem de dois polícias pela rua para que todos os "comerciantes sem licença" pegassem nas trouxas e escapassem para outros lugares.

Poucos minutos depois uma mulher com mais de setenta anos de idade sentou-se na mesa ao lado da nossa e pediu um galão. Trazia consigo dois sacos grandes de plástico, cheios de camisas, meias, lençóis, etc. Percebia-se que pertencia ao grupo de vendedores sazonais que andavam a tentar aproveitar a onda dos presentes de Natal, que só passava pela baixa, uma vez por ano.

Pouco tempo depois apareceu outra, mulher mais jovem, que tanto podia ser filha, sobrinha ou simplesmente amiga ou vizinha. Também estava carregada com sacos de material para vender, à piscar o olho à boa vontade das pessoas com os preços baratos dos seus produtos. Um minuto depois apareceu um homem, que quase que apenas entrou e saiu. Deu um recado de ouvido, à mulher mais nova, que já dobrara os quarenta há uma meia dúzia de anos, que a deixou impaciente.

Foi quando começaram a falar das suas vidas, sem se preocuparem com quem estava à volta. Não era preciso ser muito esperto, para perceber que ambas tinham passado parte das suas vidas, nas ruas, em busca de clientes. A meio da conversa a mulher mais madura, aconselhou-a a mudar de homem, para não voltar a cair na armadilha das ruas.

Com a sabedoria dos seus cabelos brancos disse que os últimos anos tinham sido os mais felizes da sua vida e que o melhor que lhe acontecera, fora livrar-se dos homens.

Isto antes de me oferecer a melhor frase do dia, quando confessou: «Passei quase toda a vida a correr à frente e atrás dos homens. Chegou, já não tenho energia nem vontade para isso.»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


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