sábado, janeiro 31, 2015

O Começo dos Livros


Quem olhar para este título poderá pensar que vou falar do começo dos livros que abrimos para ler. Mas não, vou falar do começo dos livros que nascem numa folha branca de papel ou no espaço claro do monitor do computador.

Das imensas distracções que surgem para que tudo continue em branco...

Da espera incessante para que apareça o tal "fio condutor" de todas as histórias, mesmo as que se afastam da ficção e apenas pretendem retratar um tempo, uma pessoa, através do manuseamento atento de documentos, das conversas inacabadas com que viveu ou conheceu de perto o nosso objecto de estudo e trabalho.

A ficção é diferente. Às vezes o problema não é o princípio mas o meio. O não encontrar a "obsessão" necessária, não sentir as personagens a fugirem de nós, a ganharem vida própria. Sei que há escritores que nunca sentem isso (mas esses nunca conseguem escrever histórias do "arco da velha"...).

Não tenho qualquer dúvida que gosto mais de escrever ficção que ensaios ou biografias. Mas também sei que a ficção está cada vez mais condenada à "gaveta"... 

Sim, e também prefiro a "gaveta" aos "contratos" que se praticam por aí nos nossos dias, em que algumas editoras não só querem que paguemos a impressão dos livros, com ainda querer lucrar com o nosso trabalho. Ou então sou eu que edito os meus livros (já o fiz mais que uma vez, quando tinha mais dinheiro na carteira...).

O óleo é de Katie Ohagan.

sexta-feira, janeiro 30, 2015

«O que será que virá depois dos blogues?»


Nos últimos tempos noto que há um maior vazio na blogosfera (muitos abandonos, menos visitas e comentários...). E então questiono-me: «o que será que virá depois dos blogues?»

Sei que alguma coisa aparecerá, nos próximos tempos, para colocar os blogues de hoje no bolso.

Não será algo igual ao "faicebuque", porque são coisas diferentes, pelo menos para mim (isso explicará a razão de não ter conta nesse "mundo quase paralelo").

Normalmente os blogues são "sumarentos", não se limitam a banalidade de uma frase batida, de uma fotografia ou de um video. Não é por acaso que muita gente do mundo das letras (jornalistas e escritores) aderiu a este meio de comunicação, muito mais livre que uma página de jornal, por exemplo. A sua espontaneidade (e velocidade) faz com que seja mais fácil partilharmos ideias e opiniões, e até, oferecermos sugestões.

É um meio perfeito? Com toda a certeza que não. Mas tem ferramentas para o melhorarmos. Por exemplo a moderação de comentários conseguiu afugentar os cobardes que se refugiavam no anonimato, para soltar a raiva e ordinarice que anda aos saltos dentro deles.

Outro aspecto negativo tem sido a usurpação de textos e fotografias, que depois são utilizados como se fossem das suas autorias. Embora seja uma situação desagradável, se pensarmos bem, só valoriza o nosso trabalho. Haver alguém que se quer passar por "nós", que se "baba" com o nosso talento (provavelmente por incapacidade ou preguiça...), só nos devia encher de orgulho. Sei que raramente conseguimos sentir  isso, porque nos fundo estão a tirar-nos algo que é só nosso, que fomos nós que vivemos e criámos...

Mas o mundo lá fora é igual, e não estou a falar dos carteiristas do metro e dos eléctricos. Quem é que não experimentou a sensação desagradável, de ver um colega a tentar apropriar-se das nossas ideias ou projectos? 

E de certeza que o que virá a seguir não conseguirá ultrapassar a "trapaça", pelo menos no que toca aos textos, porque mesmo que os "infelizes" não consigam copiar directamente o que escrevemos, podem sempre passar as palavras para um papel... têm é mais trabalho.

O óleo é de Carol Arnold.

quarta-feira, janeiro 28, 2015

A Moda Telenovelesca


A conversa hoje meteu uma das modas das telenovelas (mesmo as portuguesas...), a mistura de casais homossexuais, aqui e ali no enredo, masculinos e femininos.

A Rita acha que se trata de um uso e abuso da gente das artes, que por ser mais "evoluída" (foi mesmo esta palavra que usou...) que a sociedade dos comuns, aproveita todas as oportunidades para viver fora do armário.

O Alberto, para não variar, foi o mais preconceituoso, com graçolas que com o tempo deixaram de ter graça, frisando mais que uma vez, que até nem vê novelas (e não havia necessidade...).

Embora possa haver um exagero (parece que agora não há novela onde não exista um casalinho do mesmo sexo...), não existem muitas dúvidas de que é uma das melhores formas de combater o preconceito, ainda tão enraizado no nosso país. 

O óleo é de Steve Walker.

terça-feira, janeiro 27, 2015

Voltou a Morrer-se em Casa, quase Pacificamente, por esse Interior Fora...


O jornalismo mudou muito e para pior, Não se anda à procura de notícias, espera-se que as notícias batam à porta. E quando batem é um corropio, com reportagens para quase todos os gostos.

É por isso que os jornais e as televisões montam piquetes nas urgências dos hospitais, à espera de mais mortes enquanto se espera a vez. E por razões que a razão desconhece, continuam atentos a quem passa pelo estabelecimento prisional de Évora...

Num outro país, longe dos hospitais e onde os centros de saúde fecharam, muitos avós, perdidos nas aldeias do interior, morrem calmamente, sem que tenham de viajar para o "purgatório" que conhecem da televisão, onde tanto se morre da cura como do mal, pelo menos é o que pensam.

Se não há dinheiro para todos os medicamentos, menos haverá para pagar um táxi até à cidade mais próxima, quase sempre a trinta, quarenta quilómetros...

Os governantes e os jornalistas estão longe deste país. As terras longínquas dão poucos votos e ainda menos notícias.

Nada que incomode muito os velhos destas terras votadas ao abandono. Se lhes perguntarem se querem ir para o hospital, não abrem a boca mas abanam a cabeça, e dão uma resposta negativa. Se puderem escolher, morrem em casa, preferencialmente durante o sono, mesmo que seja breve... 

O óleo é de Célia Reisman.

segunda-feira, janeiro 26, 2015

Memórias Salgadas


Nas vilas e cidades piscatórias, apesar da pesca já não ser o que era, ainda se encontram muitas mulheres de negro. Muito mais que noutro lugar qualquer.

Hoje são muito menos os barcos que vão para o mar e as famílias de pescadores de verdade começam a ser uma raridade. O que até nem é muito mau para os homens, ao ponto de fingirem que agora é mais fácil chegarem a velhos...

As regras impostas pela Europa - que continua a dar-nos com uma mão para nos tirar com outra -, no início foram um alívio para as mulheres com filhos e maridos, sem se lembrarem na possibilidade destes um dia qualquer pensarem em emigrar para Espanha, para completarem as tripulações galegas. Isso acontece porque uma boa parte deles, diz não saber fazer mais nada. 

Mesmo os mais velhos, entretidos a fazer barcos em miniatura e outras peçinhas de artesanato para turistas, ainda sentem a terra a empurrá-los para o mar, como se esta fosse a sua única hipótese de sustento. Os mais corajosos e desbocados falam da liberdade com mágoa, sabem que partir para o mar é um desafio, sempre foi. Mas o pior é saberem que as ondas são mais livres que os pescadores.

Fingem querer voltar para o mar, mas é mentira. Querem viver e sabem que o mar é tantas coisas, até o cemitério das gentes que o desafiam,  especialmente quando ele está alvoraçado.

O óleo é de Michiel Schrijver.

domingo, janeiro 25, 2015

A Semana Começa ao Domingo


Sei que a missa ainda continua a ocupar as manhãs dos verdadeiros católicos, que além da fé, têm um bom motivo de vestirem uma roupa diferente dos outros dias, ao contrário de nós, que já nem conseguimos inventar um motivo novo para festejar este dia, que já foi santo. Nem conseguimos disfarçar que as nossas semanas começam invariavelmente aos domingos. 

Até o futebol, foi perdendo espaço e tempo. Por exemplo o Benfica só joga na segunda feira à noite, coisa impensável quando o futebol mandava mais que a televisão e os jogos se disputavam aos domingos à tarde, quase numa romaria parecida com a que rodeava as igrejas de manhã, mas muito menos silenciosa, bem ao jeito pagão.

Tudo começa a meio da tarde, quando começamos a pensar da semana que se avizinha, nos filhos que vão para a escola e em nós que temos um emprego à espreita. Na roupa que temos de vestir, na comida que temos de comer...

Às vezes penso que somos mais escravos da vida que os meus pais e avós. Claro que é mentira, pelo menos em parte. Somos sim, mais escravos do tempo. Os segundos, os minutos e as horas tornaram-se mais velozes, obrigando-nos a fazer tudo mais rápido, até a pensar...

O óleo é de  Emil Popgenchev.

sábado, janeiro 24, 2015

O Gostar de Ouvir Vozes


Nunca fui adepto das mensagens de telemóvel. A maior parte das vezes até me esqueço que elas existem. E que ficam "mais em conta" que um telefonema.

Isto só pode ter a ver com o meu gosto em ouvir as vozes das pessoas com quem quero falar, por muito estranho que possa parecer.

E depois há ainda o meu lado de "resistente" a uma série de coisas que finjo não serem necessárias.

Mas o pior é que também não levo a sério as mensagens que recebo. Muitas vezes ouço os seus dois toques de manhã e só ao fim do dia é que vou ver o que se passa neste mundo telegráfico, de onde tento escapar. 

Foi por isso que quando a quis ajudar, dizer-lhe onde ficava o "Cine-Incrível", já era tarde. Tinha-se socorrido de um outro "informante"...

Mas nem tudo é mau, ainda que só respondesse ao fim do dia, tive o prazer de ouvir a sua voz e de combinarmos beber um café um dia destes.

O óleo é de Zachary Thornton.

quinta-feira, janeiro 22, 2015

O Velho Café com História e Estórias


«Nunca percebi muito bem porquê, mas há uns trinta anos, este café fazia parte dos roteiros intelectuais.» Sem deixar que o interrompesse, continuou. «Felizmente o tempo levou-os todos, nem o escritor silencioso, que escrevia naquela mesa do canto, escapou.» Esboçou um sorriso, mostrando as falhas dos dentes amarelos, pintados por uma vida abraçada ao café e ao tabaco.

«Também apareciam aqui duas gajas esquisitas, em oferta permanente, diziam ser cantoras. Não morriam de amores por mim, por eu ser mauzinho e gostar de falar dos discos que não gravavam. E pior ainda, não lhes pagava cafés nem lhes dava cigarros. Também deixaram de aparecer, quando perceberam que ninguém lhes comprava nada.» 

Reparei que tinha um hábito estranho, tirava os cigarros do maço para depois os voltar a meter no mesmo lugar. Como não podia fumar ali, brincava com os cigarros.

«Quem me chateava mesmo eram os poetas. Gostavam de se ouvir e diziam poemas como se estivessem num palco. Eram quase todos maricas, daqueles que fazem questão de publicitar a opção sexual.» Apeteceu-me provocá-lo e disse-lhe que não gostava deles por serem homossexuais, não tinha nada a ver com a poesia.

«Também é verdade. Mas olhe que aquilo que eles diziam não era poesia, não fazia sentido nenhum.» 

Voltei a provocá-lo, dizendo que a poesia devia ser melhor que aquele silêncio que se ocupava das mesas vazias.

Coçou a cabeça antes de responder. «O dono disto deve ser tolinho. Se tivesse juízo, já tinha fechado o café há dois ou três anos.»

Com esta calou-me. Mas ainda bem que há teimosos...

O óleo é de Brett Amory.

terça-feira, janeiro 20, 2015

Democracia Versus Ditadura


Durante o almoço de ontem, falámos de muitas coisas, até de histórias de outros tempos (que não são os meus...) e da sabedoria de algumas pessoas cuja experiência de vida lhes dizia, logo no dia 26 de Abril de 1974, que não iríamos conseguir viver em democracia, porque não sabíamos pensar por nós, nem sabíamos o que queríamos.

Devo acrescentar que estas palavras ditas após a Revolução foram o desabafo de  um oposicionista, culto, cansado de lutar contra a corrente, desde a sua juventude, quando fez parte do MUD Juvenil.

Meses depois entretinha-se a olhar para os "comunistas novos" que subiam aos palanques para discursar. Gente que nunca encontrara nas batalhas que travou contra o salazarismo e o marcelismo. O mais curioso era olhar sem sentir qualquer estranheza.

Ele conhecera muita gente e lera muitos livros (talvez demais, se isso existe...). Por isso, sabia melhor que ninguém, que nas "guerras pelo poder" eram mais importantes os oportunistas que os idealistas... da mesma forma que sabia que precisávamos de viver pelo menos 50 anos em democracia, para nos habituarmos a ser donos das nossas acções e ideias.

Eu escutara em silêncio o filho a retratar o pai, com um orgulho desmedido. E com razões para isso. Foi também por essa razão que me apeteceu homenageá-lo, aqui, no Largo.

O óleo é de Alberto Godoy.

segunda-feira, janeiro 19, 2015

Cristiano Ronaldo Sempre foi um Fora de Série


Quando se fazem comparações entre Ronaldo e Messi, os "lugares comuns" mais utilizados para contrabalançar as suas qualidades, são que um é fruto do trabalho e outro da genialidade.

Aconteceu mais uma vez, depois da atribuição da terceira bola de ouro, ao jogador português.

Além destas afirmações terem muitas vezes um objectivo redutor em relação ao talento de Ronaldo, são falsas.

Ronaldo desde menino, nas ruas do seu bairro, em Santo António, e depois no Nacional, mostrou a sua genialidade. Não foi por acaso que com apenas 11 anos, foi contratado pelo Sporting e depois com apenas 18 anos foi para Manchester. Claro que nestas duas últimas etapas, evoluiu muito. Graças à sua dedicação ao treino melhorou os seus índices físicos (é ai que reside a grande diferença entre os dois melhores futebolistas da actualidade) e hoje, além das suas qualidades técnicas, é um atleta fabuloso.

Se me disserem que Cristiano utiliza mais as suas qualidades físicas dentro de campo (a força e a velocidade), que Messi, isso deve-se apenas às características individuais de cada um, não tem a ver com genialidade ou outra coisa qualquer. Aliás, são essas mesmas qualidades físicas e a sua robustez, que fazem com que seja menos protegido pelos árbitros que Messi e sofra marcações implacáveis por alguns defesas irascíveis.

É por tudo isto que acho falaciosas as insistências de que Cristiano é produto do treino e Messi do seu talento individual. Até porque Messi chegou às escolas do Barcelona com 13 anos, onde fez a sua formação como futebolista. Cristiano Ronaldo chegou ainda mais cedo ao Sporting, onde foi muito bem aproveitado pela equipa de Aurélio Pereira e depois continuou a sua evolução no Manchester, com a arte de Alex Ferguson.

Que ninguém tenha dúvidas que Cristiano Ronaldo (e Messi...) é um fora de série e nasceu com um talento único para brilhar nos estádios de futebol. Talento que não se ensina nos treinos...

domingo, janeiro 18, 2015

Fotografias que Guardam o Pó dos Anos


Ando em arrumações em casa e ao mexer em alguns álbuns de fotografias, tive a tentação de os folhear. 

E que descubro? Fotografias com muitas histórias, e com gente dentro, claro. Reparo que - colocando as imagens da família à parte... - pouca gente permanece "viva" (amigos de infância, de desporto, de escola, da marinha, etc).

Não imaginava que existisse tanta gente que passou por mim e que hoje está tão distante da minha vida...

E mesmo quando me olho com menos vinte e trinta anos, encontro várias diferenças físicas...  para lá do óbvio (menos peso e cabelos menos cinzentos).

Tem sido uma longa caminhada, a pé, de bicicleta (como nesta fotografia de Robert Capa), de comboio, de autocarro, de carro, e de barco, principalmente de cacilheiro...

sexta-feira, janeiro 16, 2015

O Que Está Dentro e Fora dos Livros


Hoje tive uma conversa bastante descontraída sobre o que está dentro e o que está fora dos livros.

Entre outras coisas, falámos sobre a escrita ser ou não autobiográfica. Eu disse que muitas vezes é, mas não tem de ser sempre.

Disse mais ou menos isto: «Não escrevemos  só sobre o que nos  acontece, também escrevemos sobre o que não nos aconteceu.»

Houve gargalhada geral e o Ruca lembrou-nos, que ainda por cima que há coisas que só acontecem aos outros... sem se esquecer de olhar para o maior mentiroso da mesa, grande contador de histórias, preferencialmente com "princesas", mas incapaz de escrever uma linha.

O óleo é de Ivo Petrov.

quinta-feira, janeiro 15, 2015

A Liberdade não Tem Dono nem Preço


Antes do atentado de Paris, tinha tido uma conversa extremamente rica com um homem fascinante, o Filipe, sobre a tentativa (frustrada, diga-se de passagem...), de me condicionarem enquanto homem de letras e de pensamento livre (sobre algumas "postas" publicadas no Casario do Ginjal , sobre o Poder Político Almadense).

Ele sorriu quando lhe contei o que tinha passado e afirmou: «o mundo está cheio de donos de qualquer coisa, até da liberdade, a única coisa que nunca devia ter dono.» 

Depois contou-me o que lhe sucedera durante o PREC, a ele que sempre fora oposicionista da ditadura, terminando desta forma: «Ainda hoje, quando penso que fiquei aliviado com o 25 de Novembro em 1975, não me sinto muito confortável. Mas é a verdade. Fiquei aliviado porque se caminhava para outro tipo de ditadura, pelos grandes defensores da liberdade de então.»

Para que eu não ficasse com qualquer dúvida, deu-me a explicação mais simples que alguém poderia dar: «Luís, antes do 25 de Abril chamaram-me mais que uma vez comunista. Depois da Revolução, também me chamaram, mais que uma vez, fascista. Nada que me preocupasse muito. Ainda hoje é assim, nunca fui com a "manada", sempre gostei de pensar pela minha cabeça.»

O óleo é de Olga Sergeevna.

quarta-feira, janeiro 14, 2015

A "Pensão Bom Gosto" no Ginjal


Na apresentação do meu caderno, "Ginjal 1940, poemas dois", tive de explicar que a "Pensão Bom Gosto" não era um "bordel", era mais o que hoje chamamos de "motel" (rima e é verdade...). Não havia por lá meninas à solta, havia apenas quartos vagos, que se alugavam quase por breves momentos. 

Claro que não testemunhei (nessa altura nem conhecia o Ginjal...), apenas escutei. E escrevi isto:

pensão bom gosto

A mulher que apareceu no postigo
Disse que aquilo não era bem uma pensão
eu sabia mas fiz-me desentendido,
saciava-se mais o corpo que o coração.

«A clientela é quase toda de Lisboa»,
sorriu-me ela de uma forma enigmática.
Paguei o quarto e subi sem geografias,
abraçado à minha companhia simpática.

Depois de abrir a porta e a deixar entrar
Dei alguns passos em frente, até à janela.
Não tinha pressa nem ninguém à espera,
abri a janela e fiquei a ver as barcas à vela

Preferi imaginar-me um cliente casual
e pedir à minha companheira de viagem
para não fechar completamente o cortinado,
porque não queria deixar fugir a paisagem.
  
(O óleo é de  Gina Higgins)

terça-feira, janeiro 13, 2015

Ficar Parado a Olhar para Sitio Nenhum


No Outono e no Inverno é mais fácil para mim, "olhar para sítio nenhum". Ou seja, estar a olhar fixamente para algo, que não estou a ver, porque parti, pura e simplesmente, ainda que por ligeiros segundos, provavelmente para outro "planeta".

Pensei nisso quando estava a beber café, sentado (não me apeteceu chegar ao balcão e ir logo embora...).

Porque quando dei por mim, tinha "partido"...

O óleo é de Jason Benjamim.

segunda-feira, janeiro 12, 2015

O Melhor do Mundo


O melhor futebolista do mundo volta a ser português: Cristiano Ronaldo, um caso único de superação.

domingo, janeiro 11, 2015

A Vida Nem Sempre é "Dolce"


Ao ver um filme em que os actores representavam uma daquelas  histórias de amor distante da realidade - Hollywood continua a gostar de vender sonhos... -, com um fim exageradamente feliz, fiquei a pensar na drama que é para um actor ou actriz interpretar estes fitas.

Pensei isto por saber da vida acidental da actriz principal, com vários casamentos falhados, além da dependência de drogas e álcool. Quando se fazem filmes destes, como é que depois se enfrenta a realidade?

Claro que o cinema é a brincar, mas por vezes mistura-se de tal forma com a vida, que nem sempre é fácil separar as águas...

Depois deste pensamento soube que a bela actriz de "La Dolce Vita", Anita Ekberg, tinha falecido hoje, em Roma, com 83 anos. Sei pouco da sua vida para a estar a associar a estes dramas vividos por tantos "escravos" da sétima arte, mas não posso deixar de a homenagear, pela sua beleza e por saber que a vida nem sempre é "dolce", para todos nós...

quinta-feira, janeiro 08, 2015

Os Hipócritas e a Liberdade de Expressão


É normal que quando acontecem situações como a de ontem, do atentado ao jornal satírico, "Charlie Hebdo" - que é muito mais que um ataque à liberdade de imprensa -, toda a gente erga a sua voz contra este acto sem classificação possível.

Inclusive alguns políticos, useiros e vezeiros a colocar processos a jornalistas, quando estes escrevem coisas que não lhes agradam. É por isso que eu digo que quando muita gente diz que os políticos são todos iguais, está a mentir. A relação que estes mantêm com a liberdade faz toda a diferença. Por exemplo, Mário Soares tem uma posição muito diferente de Cavaco Silva ou Alberto João Jardim sobre a comunicação social. Pode não gostar do que escrevem ou dizem sobre ele, mas nunca teve como hábito "atacar" jornais e jornalistas com processos em tribunal.

É por isso que era bom que todos aqueles que no seu intimo não conseguiram esconder a sua satisfação com o atentado de ontem, pelo menos ficassem em silêncio. 

quarta-feira, janeiro 07, 2015

O Preço da Liberdade


A Liberdade tem sempre um preço, por vezes caro demais.

Foi o que aconteceu hoje de manhã em Paris, com o assassinato de doze pessoas, entre os quais os cartoonistas, Stephane Charbonner (Charb), Georges Wolinski, Tignous e Jean Cabut (Cabu), por quem pensa que pode condicionar a liberdade de expressão dos outros.

É preciso é que não nos rendamos a esta gente, que pensa que é através da violência, da repressão e do medo, que consegue atingir os seus objectivos.

Graças a eles, o "Charlie Hebdo" está mais vivo e popular que nunca.

terça-feira, janeiro 06, 2015

O Sal da Vida


Hoje não há palavras por aí à solta. Ou se há, eu pelo menos não as encontro.

Às vezes é assim...

Talvez a culpa seja do filme que vi. Fez-me pensar mas não escrever.

Acho que gostamos de complicar as coisas simples, como se isso fosse o sal da vida.

A vida é tão estranha, que depois dos cinquenta, até somos capazes de pensar que sabemos muito pouco sobre ela...

O óleo é de Jeffrey T. Larson.

domingo, janeiro 04, 2015

Um Café com Sabor Diferente


Os cafés continuam a ser lugares únicos, pelo menos aqueles que se tornam "nossos", com o passar dos anos.

Eu tenho um destes espaços, que frequento há mais de vinte anos e que já teve pelo menos quatro gerências diferentes, e claro, dezenas de funcionários. O único que tem resistido a todo este tempo é o Manuel, a quem não preciso de pedir o café...

Apesar das mesas não serem as mesmas, assim como a decoração, as memórias permanecem vivas, de tantas conversas, tantos olhares, tantos sorrisos e também algumas discussões. Um café que se preze, aguenta tudo.

O mais curioso é este lugar também se confundir com um "escritório", ou seja, é um dos meus pontos de encontro para tratar de vários assuntos, inclusive livros que estão na forja e outros projectos culturais.

Também tenho escrito muito neste meu café, especialmente quando estou sozinho. Há sempre ideias a aparecerem do "tudo" que normalmente chamamos "nada"...

Como já não é a primeira vez que falo deste lugar, já devem ter percebido que falo do "Repuxo", na praça Gil Vicente, em Almada, que até já foi inspiração para a capa de um dos meus livros (da autoria de Mário Nery) e de um dos contos...

sábado, janeiro 03, 2015

"Conversas Públicas"


Chamei-lhe "conversas públicas", mas do que quero falar é de duas entrevistas, publicadas ontem e hoje na nossa imprensa. A primeira a Alexandra Lencastre na revista "Tabú" ("Sol") e a segunda a Nuno Artur Silva, ao "Atual" ("Expresso"). Normalmente não se fala dos entrevistadores, mas como de certa forma também são para aqui chamados, refiro-os: a primeira é de Raquel Carrilho e a segunda de Cristina Margato.

Eu que já fiz centenas de entrevistas (mais de 500 pela certa...), sei que a qualidade ou vulgaridade da conversa deve ser sempre repartida por quem faz as perguntas (quase sempre esquecido) e por quem responde.

Se sei que não há qualquer comparação entre ambos, também sei que posso dizer o que senti ao ler cada uma delas. A conversa com a Alexandra é de uma banalidade que, enfim... já a do Nuno, é extremamente interessante, explanando muito bem o seu percurso de vida no mundo do espectáculo.

Claro que isto não passa de uma opinião pessoal. 

Mas não se pode esconder que nem toda a gente tem jeito para explorar da melhor maneira as "conversas públicas", porque nem toda a gente sabe ouvir e perguntar...

O óleo é de Dimitri Vojnov.

sexta-feira, janeiro 02, 2015

O Número Dois Mil e Quinze


É estranho que um novo ano comece a uma sexta feira (ontem não contou...), pelo menos para quem trabalha e não beneficia de "pontes" (algo, que com a proximidade das eleições vai voltando, especialmente para os funcionários públicos, os grandes massacrados desta crise, provavelmente a pensar na memória curta dos portugueses...).

Não costumo fazer balanços dos anos que passam, até por saber que nesta coisa de anos, apenas mudam os números, o resto é tudo uma questão psicológica, para quem a pode usar, claro. Há quem queira mudar quase tudo nas suas vidas e poucas hipóteses tem de mudar o que quer que seja. Outros, avessos a mudanças, são obrigados a mudar mais do que queriam das suas vidas, pelos acidentes de percursos que gostam de se atravessar à nossa frente...

Claro que há coisas que me davam jeito. Outras que me apeteciam. Por exemplo, queria voltar a escrever um romance (neste momento devo ter umas oitenta páginas escritas - se for um daqueles livros com letras grandes, ultrapassa as cem -, mas estou com a sensação de que tenho meia dúzia de romances dentro de um só, nem sei o que fazer a tantas personagens...). Mas estou sem pressas, sei que as coisas saem melhor sem pressão. Embora muito do trabalho que faço tenha prazos...

Espero continuar por aqui, com a regularidade habitual (quase diária), porque me sinto bem no "largo", a ver a "banda" a passar, a dizer bom dia ou boa tarde a quem passa, como se vivesse numa aldeia.

O óleo é de Ferenc Orszagh.