domingo, março 31, 2013

Uma Páscoa Estranha


Esta foi uma Páscoa estranha, não por qualquer motivo ligado à religiosidade da quadra, mas pelo tempo molhado que se fez sentir, um pouco por todo o lado.

Normalmente nesta quadra vamos até à Beira Baixa, ver os campos primaveris  ao mesmo tempo que aproveitamos para abrir às janelas e as portas da casa de família, fechada quase o ano inteiro.

O regresso fica adiado para os tempos em que ainda se festeja a Liberdade, mais para o fim do mês que está a chegar...

O óleo é de Bonnie Sklarski.

sábado, março 30, 2013

Olhar a Diferença


Quando nos cruzamos com qualquer coisa que sentimos estar fora do sítio, olhamos de uma forma quase automática, quase sem querer, de olhos bem abertos.

Há algo forte e físico que conduz o nosso olhar para onde pensamos que não deve, mas...

O óleo é de Paul Devaux.

sexta-feira, março 29, 2013

Este Tempo com Deuses


Não sou muito de discutir o "sexo dos anjos", muito menos a existência dos "deuses". 

Claro que nos dá algum jeito que Deus exista, pois desta forma pode e deve abarcar com todas as nossas dúvidas nas suas costas. Mas também pode muito bem ter sido mais uma daquelas invenções nossas, para não nos sentirmos tão sozinhos, no meio desta imensidão de terra rodeada por mar...

Já sobre Jesus falo mais à vontade e gostava muito que tivesse existido, que tivesse sido a tal personagem singular, melhor que qualquer um de nós, mesmo que não fosse capaz de caminhar por cima do mar nem de transformar água em vinho...

O óleo é de Jack Morefield.

quinta-feira, março 28, 2013

«Não sou capaz.»


A crise trouxe-lhe tudo, o desemprego, o desespero e sobretudo o sentimento cada vez mais forte de inutilidade...

O pesadelo durava há mais de um ano.

O marido também estava desempregado e ultimamente começara a pressioná-la para aceitar trabalhar num bar nocturno de alterne e de mais qualquer coisa. Disse-lhe que só custava os primeiros dias.

Ela ficou em silêncio.

Continuou à procura de trabalho, porque não queria tornar-se uma "rameira"...

Uma noite ele disse-lhe para se vestir, de uma forma leve, sem se esquecer de se pintar, porque ia começar a trabalhar no bar do Joca.

Enfiou-se no quarto e começou a chorar.

O marido entrou no quarto e tentou obrigá-la a vestir-se, dizendo que estava a ficar tarde. Ela levantou-se e disse: «não sou capaz», sem esconder as lágrimas.

Ele virou-lhe as costas e saiu, deixando a porta da rua bater com estrondo, ecoando pela escadaria do prédio.

O óleo é de Burton Silverman.

quarta-feira, março 27, 2013

O Teatro Começa...



Texto com dedicatória para  o Xico, a Andreia e a Laura (sim tu...)

O teatro começa nas palavras do dramaturgo, que vai chamando pessoas, que andam por aí nas ruas, para as suas folhas de papel...

Depois inventa um ambiente especial e oferece papeis a gente diferente que adora  "viver" novas vidas, mesmo que seja por apenas uma hora...

Gente que bebe todas as palavras do autor e se vai transformando, dia após dia, em personagens de carne e osso.

Transformação que se completa no camarim, com a cor e o brilho do outro lado da realidade...

Depois ouvem-se as famosas pancadas de Moliére e os actores avançam, pelos corredores, que parecem mexer-se, até que chegam em silêncio às filas de panos que se escondem atrás do palco e tapam os espectadores e a luz dos projectores, que os irão iluminar e dar  lugar à tal outra vida...

Quando o pano sobe, o milagre acontece, entram em cena e tudo esquecem.

Agora são apenas personagens de teatro, que se irão alimentar das palmas, dos sorrisos e dos silêncios do público...

O óleo é de Lorenzo Bonechi.

terça-feira, março 26, 2013

A Luísa da Concertina


Ela tocava concertina e não acordeon.

Ela parecia estrangeira, não só pela forma como tocava mas também pelo penteado e a roupa que vestia.

Ela quando veio ter connosco a uma das mesas do bar, pediu-me um cigarro que não tinha, num português elegante, quase dos salões. Foi por isso que me levantei e fui pedir um cigarro e um isqueiro ao Xico, que me sorriu.

Ela apresentou-se e disse que era a Luisa, eu retorqui que era o Luís, ela sorriu, provavelmente a pensar que estava a brincar...

Ela, depois de acabar o cigarro e de beber uma água lisa, piscou-me o olho e voltou para a espécie de palco, onde continuou o recital, que me lembrou os passeios que dei à beira do Sena.

O óleo é de Guy Péne du Bois.

segunda-feira, março 25, 2013

O Jornal das "Peixeiras" na Televisão


Depois de "A Bola" foi agora a vez do "CM" passar a ser também um canal de televisão no cabo.

Parece que os dois jornais que mais vendem no nosso país, não dormem e já estão a pensar em fazer pela vida, perante a ameaça do fim - a curto prazo... - dos "velhos" jornais de papel.

Como sou da concorrência, não vou ver assistir ao desfile das "peixeiras", especialistas em "tudologia", muito menos ao "sangue" que deve escorrer de reportagem em reportagem, por este Portugal que muitos teimam em continuar a olhar  como se fosse um folhetim do Eça ou de Camilo.

O óleo é de Faby.

domingo, março 24, 2013

Viagem em Volta da História de Cada Fotografia


O poder da imagem sempre foi especial. Não só pelo seu significado, mas também pelas memórias que pode e deve despoletar em cada um de nós.

No "território" da imagem há uma Arte que adquire um peso mais forte que qualquer outra, por nos conseguir confrontar com a realidade como nenhuma outra: a Fotografia.

A máquina de tirar retratos consegue ser o objecto que obteve uma maior intimidade com o nosso olhar, ao ponto de se aproximar como nenhum outro do que ele sente ou vive.

Apesar da massificação da fotografia, graças ao "mundo digital", cada imagem continua a ter uma identidade própria.

Ou seja, cada fotografia continua a ter uma história...

Quando pegamos num álbum com retratos antigos, recebemos de volta da nossa memória, pessoas, lugares, acontecimentos. E é quase sempre bom.

Fico sempre com a sensação que devia ter tirado muito mais fotografias aos lugares por onde passei, porque tenho máquina praticamente desde os quinze anos.

Mas nem sempre lhe dei a importância devida. Talvez por não ter tido "escola", por viver num meio em que a fotografia era normalmente desvalorizada enquanto arte, graças ao pensamento parvo que qualquer pessoa que tivesse uma máquina era um potencial fotógrafo.

Hoje sei que devia ter começado a fazer perguntas logo aos quinze anos a quem via tirar retratos, como era o caso do meu tio Zé, e não já depois dos trinta...

O óleo é de Mirian Constán.

sexta-feira, março 22, 2013

«Sou eu que escolho os meus homens.»


Nunca se achou uma mulher fácil, apenas simpática.

Simpatia que de vez enquanto é mal interpretada, por homens que pensam que o seu sorriso é muito mais que isso.

Pensava que depois dos cinquenta as coisas mudavam, pura ilusão.

Alguns homens de meia idade, quase sempre casados, ainda são mais nojentos que os jovens, porque continuam a viver quase em permanência no "planeta dos machos latinos", onde pensam que tudo é permitido.

Foi por isso que se sentiu a maior das mulheres quando disse ao cantor  de baladas, que se acha irresistível: «sou eu que escolho os meus homens», antes de lhe virar costas.

Já não ouviu o palavrão que ele soltou, à medida que ia ficando pequenino no meio de outros companheiros, quase todos de metro e meio.

O óleo é de António Laglia.

quinta-feira, março 21, 2013

A Poesia, as Árvores e a Vida


Hoje é dia de poesias, mas também de árvores, que nem sempre amamos como devíamos, ou seja, como elementos fundamentais para as nossas vidas.

Estava indeciso, não sabia bem que poema deixar aqui... até me decidir pela "Rua Direita" do meu amigo Orlando Laranjeiro, poeta de Almada e do mundo...


Rua Direita

Minha rua, minha paixão
Minha infância, meu passado
Rua do meu coração
Meu caminho recordado

Eras linda calcetada
Alegre e escorregadia
Hoje estás alcatroada
Estás mais escura e mais fria

Foste rua de esperança
Passeio de namorados
Olhos vivos de criança
E encontro de reformados

Foste palco de cegada
Desfile e manifestação
Menina bonita d’Almada
E passagem de procissão

Rua da fraternidade
De peditório e funerais
Anseio de liberdade
E berço de ideais

Sede de colectividades
Escola musical
Centro de rivalidades
E referência cultural

És a testemunha viva
Dos feitos que Almada encerra
És a memória colectiva
Do povo da nossa Terra

E mesmo que ultrapassada
Velha, suja e estreita
Não há avenida em Almada
Que valha a rua Direita.

O óleo é de  Nicolas Curmer.              

quarta-feira, março 20, 2013

As Amarras Invisiveis


Olhava a janela e ficava sempre com a sensação que lhe faltava qualquer coisa...

Sabia que podia e devia ter partido, há muitos anos atrás, quando ainda era jovem e o mundo a entusiasmava. 

Não questionava o facto de se ter apaixonado pela pessoa errada, sabia que o coração adora pregar-nos partidas.

Os desígnios da natureza não a deixaram ter filhos mas vingou-se e foi "mãe" de muitos dos seus alunos, da velha escola que  era o seu espaço de evasão e hoje está fechada, porque  a educação deixou de ser importante, da mesma forma que a família deixou de ser um "farol". É por isso que o nascimento de crianças nos lares deste Portugal, triste e desiludido, são uma coisa cada vez mais rara.

Olhava a janela e sentia a falta de ter vontade de partir...

O óleo é de Guy Péne de Bois.

segunda-feira, março 18, 2013

Empurrar a Culpa...


Quando cometemos qualquer erro, pequeno ou grande a melhor solução (para evitar futuros "danos colaterais"...) é assumi-lo, justificando-o da melhor maneira possível. 

Se não o fizermos, podemos pelo menos fazer figas para que ele caia no esquecimento. 

O que nunca devemos fazer é "empurrar a culpa" para outros lados, envolvendo terceiras pessoas, sem terem nada que ver com o assunto.

Provavelmente estas palavras parecem quase um enigma, mas não, foi a forma suave de relatar a forma como me tentaram envolver numa situação em que não tinha rigorosamente nada a ver com ela.

O óleo de Annick Bouvattier não foi escolhido por acaso, já que se tratou de um daqueles "jogos de intrigas" tipicamente femininos...

domingo, março 17, 2013

Não Vale a Pena Esconder as Emoções


Quando organizamos uma iniciativa Cultural e verificamos que tudo correu bem, é difícil definir o que sentirmos. 

E se pensarmos que minutos antes do espectáculo começar, ainda tivemos de "improvisar", à boa maneira portuguesa...

Mas à medida que as coisas avançaram, fomos tendo a noção perfeita de que todas  as escolhas tinham sido certas.

Foi bom ver tantos amigos felizes pela grandeza do momento.

O resultado final diz-nos que valeu a pena...

Obrigado António, Carlos, Francisco e Orlando.

O óleo é de Gianni Gueggia.

quarta-feira, março 13, 2013

Outras Coisas...


Nestes últimos dias praticamente não vi notícias. Senti-me ligeiramente incomodado com a "invasão" dos fumos negros ou brancos de uns senhores que pensam que vivem apenas a uns metros do "céu".

Só mesmo ligeiramente, porque fiquei mais distanciado deste nosso país que tem um primeiro-ministro, cada vez mais salazarista, que por exemplo ontem ficou muito incomodado, quando a deputada Heloisa (Grande Mulher...), lhe disse com todas as letras, que ele nos tem andado a roubar. E apesar da interpelação do senhor (muito "virgem ofendida"), ela não retirou uma vírgula.

No café percebi que alguns amigos continuam preocupados com a "dança das cadeiras" que têm Meneses e Seara, no topo do "bolo" laranja. Eu não. Sei que o povo não engraça muito com estas mudanças e quando for tempo, dará a resposta mais conveniente.

Mas não posso deixar de rir com este país, que faz leis para fingir que tudo vai mudar, quando o objectivo é que fique tudo na mesma...

terça-feira, março 12, 2013

A Outra Escola, do Tempo dos Analfabetos...


É uma alegria andar por aí na rua e sentir a companhia das palavras dos outros, que decidem vir ter comigo, quase misteriosamente, sem que tenha realizado qualquer pedido ou passeie na rua com as "orelhas no ar"...

Não sei se isto acontece por ter algum sentido desconhecido mais apurado ou simplesmente pelo facto de  caminhar livremente nesse momento, sem preocupações na cabeça (embora seja raro, também acontece...). Inclino-me mais para a segunda hipótese.

Vamos lá então às palavras. Dois homens que podiam ser meus pais, falavam e sorriam, ao recordarem a escola do seu tempo, em que as reguadas eram o pão nosso de cada dia e o principal auxiliar de memória do professor. Desculpavam todos aqueles que faziam "gazeta" à escola, tantas vezes transformada num "campo de tortura".

Nesse tempo não havia espaço para a psicologia, nem tão pouco a preocupação de tentar compreender o porquê da "burrice" de alguns alunos. Aquele pedaço de madeira "milagroso" resolvia todos os problemas. Até conseguia afastar os alunos "indesejáveis" das salas...

Nunca tinha olhado para este problema com esta "violência", nem pensado que muitos dos professores desses tempos tinham a sua quota parte de culpa nos altos índices de analfabetismo no nosso país...

O mais curioso é haver quem tente comparar a escola desses tempos com a dos nossos dias. Eu sei, a ignorância sempre foi, e continua a ser, atrevida...

O óleo é novamente de Jim Daly.

domingo, março 10, 2013

O Apelo e o Prazer da Maternidade


As mulheres falavam do apelo da maternidade, enquanto em desfolhava o jornal. 

Se duas delas só se recordavam das dores e enjoos, as restantes três não, falavam da cor brilhante da pele, da ausência das enxaquecas e do período e de uma coisa ainda mais bonita de se ouvir: o prazer de ver a barriga a ganhar vida.

Lembrei-me de uma vizinha que já tem quatro filhas, com pouco mais de trinta anos. Não sei quase nada da sua vida, nem tão pouco arrisco uma hipótese. Mas como tem quatro meninas, pode andar à procura do rapaz, que não surge, ou então pode mesmo sentir o tal prazer de ver a barriga a ganhar vida...

Não acredito que tenha um problema qualquer com o planeamento famíliar, mas não sei.

A única coisa que sei é que contribui para que os portugueses não sejam uma espécie em vias de extinção. 

O óleo é de Jim Daly.

sexta-feira, março 08, 2013

O Verdadeiro Dia da Mulher


Quando as mulheres saírem à rua com um sorriso aberto  e vontade de oferecer flores aos homens,  estamos no verdadeiro Dia da Mulher!

(digo eu, claro...)

O óleo é de Eric Wallis.

quinta-feira, março 07, 2013

A Normalidade da Anormalidade


Sei que este título é quase surreal, mas acontece, mais hoje que ontem.

As crises também têm estes efeitos, transformam as "anormalidades" em normalidades...

Não me lembro de um governo que utilize tanto a palavra "mérito" como este.

Claro que esta palavra pode ser utilizada com os sentidos mais variados, porque o "mérito" sempre teve muito que se lhe diga.

E hoje o tal "mérito", que não me canso de repetir,  caminha para a normalidade, tal como as desigualdades, que nos saltam cada vez mais à vista...

E esse "mérito" que falo, é apenas o de ser filho do fulano tal ou da fulana tal. Quantos primeiros classificados em concursos ditos públicos são ultrapassados pelo tal "mérito"?

Outra coisa que também parece esquecida e quase que não se fala dela, é o "assédio sexual", mesmo que para para alguns empregos seja de bom tom, aparecer de mini saia e com uma blusa ou vestido decotado...

Detesto moralismos de pacotilha, mas quando as anormalidades se tornam normais, não sei onde iremos parar...

O óleo é de Carrie Graber.

terça-feira, março 05, 2013

Não é Bem Vergonha, mas...


Às vezes tenho gestos de "cavalheiro" para algumas mulheres, que acabo por ter de disfarçar. Quase que me apetece dizer que estou apenas a fingir que sou o meu avô, no tempo em que era impossível um homem ficar sentado em qualquer transporte público, quando uma senhora estava de pé.

Estas coisas saem-me quase de uma forma instintiva e muitas damas até pensam que estou a brincar com elas...

São gestos que se foram perdendo no tempo e deixaram de ser naturais. Deve ser por isso que me sinto com o "passo trocado", como se... Não é bem vergonha, mas não deixa de ser uma sensação esquisita. É como se hoje só existisse espaço para os cavalheiros nos bailes dos Alunos do Apolo ou da Casa do Alentejo...

O óleo é de Raymond Leech.

domingo, março 03, 2013

A Sara do Nosso Contentamento


Um dia depois da vitória do povo português nas ruas do país, soube bem ver a atleta Sara Moreira a sagrar-se campeã europeia de 3000 metros, nos Campeonatos da Europa de Atletismo que se realizam em Gotemburgo.

De vitória em vitória, até à derrota final destes governantes medíocres  que já percebi que vão precisar de um "empurrão" grande, para "caírem" do poder...

sexta-feira, março 01, 2013

Apeteceu-me Ler os Teus Pensamentos


Estávamos a alguns metros de distância, de um café que já não enche como dantes, como quase tudo neste país.

Reparei em ti com mais atenção, por não ter muito mais "paisagem" agradável à mão.

Durante alguns minutos senti-me invisível, o que fez com que especulasse sobre tanta abstracção feminina.

Claro que com tanto desemprego, tantos roubos nos salários, tanta tristeza no ar, não te  faltavam motivos para uma viagem tão longa ao mundo que chamamos da "lua". Nem precisavam de ser males de amor...

O óleo é de Ortega Lopez.