Podia ser uma cena de filme, realizada por um europeu daqueles que gostam de dar voltas ao amor, que o preferem contar de uma forma distorcida, de maneira a que nada pareça bater certo. Coisas do século passado, em que ainda existia teatro de revista e umas moçoilas boas que eram apelidadas de coristas. Normalmente eram mulheres desinibidas, habituadas a mostrar as melhores partes do corpo nos palcos, cantando e rindo, mas quase sem falas.
Havia um pouco de tudo, mulheres que já tinham ultrapassado os trinta e que viam os sonhos a fugir para longe. Sim, os sonhos de um dia serem as protagonistas de qualquer peça teatral, ou até de um filme. Apenas as jovens que rondavam os vinte anos e que pensavam ter forças para provar que eram mais que um corpo curvilíneo, continuavam a correr atrás dos sonhos.
Tu pertencias a este último grupo, notava-se que tinhas o mundo todo à frente.
Não sei se gostei logo de ti, ou se simplesmente fomos empurrados um para o outro, como costuma acontecer quando se juntam grupos de homens e mulheres, uns conhecidos outros nem por isso.
Sei apenas que é impossível esquecer o que vi no fim da noite, no lado escuro do quarto.
Era tão novo... nunca tinha visto uma mulher a despir-se com tanta naturalidade, sentada na única cadeira do quarto. Cantavas e sorrias de uma forma tão suave, ora olhando para mim, ora para dentro de ti.
E claro, também foste a primeira que vi usar um cinto de ligas.
O óleo é de Paul Laurenzi.