segunda-feira, dezembro 31, 2007

Largo da (Recuperação da) Memória

O meu maior desejo para 2008 aqui no Largo é que portugueses "acordem", que voltem a ter "Memória".
Sim, que se lembrem de coisas como: que temos um ministro da saúde que fecha maternidades, urgências, centros de saúde, e diz que temos mais e melhor saúde; que a escolha do novo aeroporto de Lisboa será determinada por razões e interesses pessoais e não do Estado; que os incentivos à natalidade são o fecho de maternidades no interior e a redução no apoio ao arrendamento de casas aos nossos jovens; que o desemprego continua a aumentar graças à política económica desastrosa dos últimos governos; que os empresários portugueses estão mais preocupados com as migalhas que têm de acrescentar ao novo ordenado minímo (uma vergonha nacional), que com os carros de último modelo que compram ou com a nova vivenda que construiram; que a maior parte dos autarcas só se lembram das populações no ano de eleições; que a frase feita de que Judiciária é uma das melhores polícias do mundo, é apenas mais uma balela, a juntar a tantas outras neste país; o que o senhor Cadilhe, entre outras personagens da finança, andou a fazer, depois de ter sido ministro das finanças; qual era o discurso e a prática de Sócrates, ministro do ambiente de Guterres; das palavras de Pacheco Pereira - entre outros comentadores políticos do bloco central -, durante e após o cavaquistão; que a comunicação social está perigosamente entregue a quatro grupos económicos (um terço do que acontecia em plena ditadura...); que as principais editoras também pertencem a quatro grupos económicos (dantes eram os três da vida airada, agora são quatro...); e sobretudo, que Portugal seria um país muito melhor, se tivesse sido governado nos últimos trinta anos por pessoas sérias, competentes e com sentido de Estado, porque, de certeza, que as funções de ministro ou secretário de estado, não se resumem a gastar o dinheiro público a seu bel prazer ou arranjar empregos bem pagos para a família e amigos, garantindo ao mesmo tempo um cargo administrativo no sector público, milionariamente remunerado e com mordomias "reais", após as funções ministeriais.
Escolhi "O Pesadelo" do Rafael Bordalo Pinheiro, meio desconsolado, por os seus bonecos centenários, continuarem tão actuais neste país...

domingo, dezembro 30, 2007

A Paz é Possível

Há exactamente trinta e cinco anos um grupo de católicos e democratas ocuparam a Capela do Rato, com o objectivo de comemorar o Dia Mundial da Paz, com uma vigilia de 48 horas, onde se chamava a atenção para dentro do país que, "A Paz é Possível", tendo como pano de fundo o protesto contra a Guerra Colonial, para onde eram enviados todos os anos, milhares de jovens portugueses.
As polícias do regime invadiram a Capela e detiveram cerca de setenta pessoas, ao mesmo tempo que encerravam este lugar sagrado.
A fotografia simbólica é de Sebastião Salgado, em Luanda.

sexta-feira, dezembro 28, 2007

O Último Comício de Benazir Bhutto

Esta senhora paquistanesa nunca me despertou grande interesse, tal como a maioria dos políticos asiáticos, embora ao pé do "generalíssimo" Musharraf, possa e deva ser considerada uma grande democrata, e tenha a virtude de ter sido a primeira mulher a chefiar um governo num Estado muçulmano, com apenas 35 anos...
No entanto há dois aspectos que me parecem demasiado românticos, para que passe ao seu lado do seu assassínio: a sua beleza e a sua coragem.
Ela era realmente bela e muito corajosa, pois sabia ao que ia neste seu regresso ao Paquistão.
Escolheu o caminho mais perigoso, provavelmente por amor ao seu país, ou então, pelo gosto do poder, que já saboreara por duas vezes.
Embora se considerasse uma sobrevivente, não resistiu a mais um atentado e ficará para a história como mais uma mártir do terrorismo que assola todos os continentes...

quinta-feira, dezembro 27, 2007

A Democracia dos Grandes


O projecto central, que já é mais que "nevoeiro", tem como principal objectivo "apagar" dos sufrágios os partidos com menos de 5000 militantes.
Na minha opinião é um projecto muito pouco democrático, tem inclusive alguns laivos de salazarismo.
Incomoda-me bastante que esta rotação política entre apenas dois partidos no nosso país - e que em trinta anos de democracia tem deixado tanto a desejar -, esteja cada vez mais de pedra e cal, e que os outros partidos não consigam entrar nesta batalha pelo poder.
Enquanto algumas sumidades chamam a este sistema político bipartidário de moderno, por ser o que rege países como a Inglaterra ou os Estados Unidos da América, eu olho-o como um regresso a um passado bastante penoso para o país, no século XIX, em que o poder também foi repartido entre os progressistas e os regeneradores, com os resultados que se conhecem...
Só espero que estas nuances não pretendam ir ainda mais longe, ou seja, caminhar para o partido único...
Este cartune do Rui é de 1995, mas continua tão actual...

sábado, dezembro 22, 2007

O Veludo do Musgo no Nosso Présépio


Durante os anos da minha infância, o mais importante do "decor" de Natal era o presépio, a árvore de Natal esteve sempre em segundo plano.
Eu e o meu irmão visitávamos, antecipadamente, os pinhais que rodeavam o nosso bairro, à procura do musgo mais bonito e farfalhudo, para fazer o piso do nosso presépio. Depois de o encontrarmos, guardávamos segredo e não esperávamos muito tempo, para o trazermos para casa, dentro de caixas de sapatos de papelão...
Depois começávamos a construir o nosso presépio, cada vez com mais peças, que íamos comprando ano após ano. Além das tradicionais figuras da sagrada família (com a vaca e o burro), dos reis magos, dos pastores e das ovelhas, também tínhamos outras personagens, inclusive músicos de qualquer filarmónica, sem sequer pensarmos que eram demasiado modernos para o presépio...
Os caminhos eram feitos com areia da praia e os lagos com a prata dos cigarros.
Depois crescemos e fomos perdendo a vontade de fazer o presépio... recordo que nesta altura também já colocávamos as prendas na árvore de Natal e não na chaminé, porque estávamos demasiado grandes para acreditar no Menino Jesus ou no Pai Natal...
Mas enquanto a magia durou, foi bom...

quinta-feira, dezembro 20, 2007

A Vaidadezinha é Tramada...

Embora não tenha nada contra, tenho-me colocado sempre à margem da onda de prémios que se oferecem neste grande universo da "blogosfera". Limito-me a agradecer as deferências de todos aqueles que têm premiado as minhas "casas", mas fico-me por aí.
Claro que se trata apenas de uma opção pessoal.
Como sou bastante distraído (especialmente de coisas que não me dizem muito...), tenho passado completamente ao lado das escolhas dos melhores "blogues", aqui e ali. No entanto não pude deixar de ficar perplexo ao ler no Blasfémias que alguns senhores tinham aceitado ser juízes em causa própria, conseguindo a já pouco original conquista dos dois primeiros prémios. Estou a falar de Marco Santos (Bitaites) - que não faço ideia quem seja - e de Nuno Markl (Há Vida em Markl).
Na minha escala de valores acho escandaloso que estes dois sujeitos tenham aceitado fazer parte de um júri, que ofereceu os dois primeiros prémios às suas "casas". Ainda pensei deixar um comentário na caixa do senhor Nuno, mas como existe moderação de comentários, e ia dizer-lhe o que estou a escrever aqui, a minha opinião ia certamente para o lixo.
Apenas me questiono: um prémio destes, meramente simbólico, é mais importante que a dignidade destes sujeitos?
Pelos vistos é...
A vaidadezinha sempre foi, e continua a ser, uma coisa tramada...
O óleo que embeleza este texto é de Jacques Resch e tem como título "Le Diabolo".

quarta-feira, dezembro 19, 2007

A Morte Traiçoeira de Um Grande Artista


Há exactamente quarenta e seis anos, a PIDE matou, cobardemente, José Dias Coelho, com vários tiros disparados nas suas costas, numa das ruas de Alcântara.
Na época Dias Coelho era um promissor artista plástico, militante do PCP, que decidiu abdicar dos seus sonhos pessoais e passar à clandestinidade, juntamente com a sua companheira de sempre, Margarida Tengarrinha, atrás de um sonho maior: o da Liberdade para todos os portugueses.
O desenho que escolhi, foi uma adaptação que fiz de um dos seus últimos desenhos, reproduzido no "Avante", a quando do assassinato de Cândido Pilé, em Almada, ocorrido um mês antes da sua morte, utilizado (com um filtro) para a capa do meu livro "Almada e a Resistência Antifascista".

sexta-feira, dezembro 14, 2007

A Inesquecível Beatriz Costa

Beatriz Costa faz hoje cem anos.
A excelente actriz está ligada aos anos de ouro do nosso cinema, como primeira figura de fitas como "A Canção de Lisboa" ou "Aldeia da Roupa Branca", dois grandes sucessos, rodados dos anos trinta do século passado.
Foi também nessa época que o teatro de revista teve o seu "bomm", apresentando dezenas de êxitos inesquecíveis, graças ao brilho de Beatriz e de tantos outros excelentes actores e actrizes, como Vasco Santana, António Silva, Costinha, Irene Isidro, João Villaret, etc.
Além dos filmes e do teatro, a actriz também nos deixou quatro livros de memórias, com títulos bem ilucidativos: "Sem Papas na Língua", "Quando os Vascos Eram Santanas", "Nos Cornos da Vida" e "Eles e Eu".
A fotografia que ilustra este texto mostra-nos Beatriz Costa a contracenar com José Amaro na "Aldeia da Roupa Branca", filme que fez com que ficasse conhecida com a nossa "saloinha", algo que aceitou com a sua bonomia, nunca esquecendo a Charneca do Milharado, aldeia do concelho de Mafra onde nasceu.

terça-feira, dezembro 11, 2007

Parabéns Manoel


Quando alguém, com noventa e nove anos (feitos hoje), continua a fazer aquilo que mais gosta, com talento e com uma perspectiva cinéfila muito própria, onde se encontram laivos de arte e de poesia nos filmes que realiza, merece os mais sinceros PARABÉNS.
E Mestre Manoel Oliveira é muito mais que um icone português, é uma figura grande do cinema europeu.

sábado, dezembro 08, 2007

Eu: Florbela Espanca


Florbela Espança nasceu em Vila Viçosa a 8 de Dezembro de 1894.
Foi a nossa grande poetisa do amor...
Deixo-vos aqui, um seu auto-retrato:


Eu

Até agora eu não me conhecia.
Julgava que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos descrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.

Mas que eu não era Eu não o sabia
E mesmo que o soubesse, o não dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim... e não me via!

Andava a procurar-me – pobre louca! –
E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!

E esta ânsia de viver, que nada acalma,
É a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!

Florbela Espanca


O desenho é da autoria de seu irmão, Apeles Espanca.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Rogério e a Arte no Futebol


Rogério de Carvalho faz hoje a bonita idade de oitenta e cinco anos.
Foi um extraordinário avançado do Benfica e da selecção, nos anos quarenta e cinquenta, que além dos muitos golos que marcava, era de uma elegância, que tudo parecia fácil, quando tinha a bola nos pés.
Ficou conhecido pelo "Pipi". No princípio da década de noventa explicou-me porquê, nas páginas do "Record": Quando entrei para o Benfica, veio uma moda de Itália, com os casacos de três botões e as calças apertadas em baixo, que eram usados pelos "Pipis". Eu e um colega tínhamos um alfaiate e pedimos-lhe para nos fazer um fato daqueles. Nesse tempo, no Benfica todos tínhamos alcunhas e o Gaspar Pinto e o Albino queriam baptizar-me. Como era magrinho, o Gaspar Pinto pensou em "Agulhas", o Albino disse que como eu era todo "pipas", "Pipi" era melhor. E assim fiquei para a história do futebol.
Além de ser um extraordinário jogador, era correctíssimo, incapaz de responder às agressões e provocações dos defesas adversários...
Parabéns Rogério, pela tua grandeza humana.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

A Nossa Publicidade (5)


Embora este anúncio seja ligeiramente sexista (parece que só os homens é que têm tosse de cão...), não deixa de ser engraçado e estar apropriado para a época.
Sim, basta uma distracção e lá vem o pingo no nariz e a tosse, quase sempre irritante, pelo menos para quem padece da constipação...
Como devem calcular, não tenho qualquer contrato marca, pelo que recomendo qualquer xarope, principalmente o caseiro, de cenoura...

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Dar & Receber


António Variações faz hoje sessenta e três anos...
Segundo a minha modesta opinião, o António foi o nosso primeiro verdadeiro artista pop, tendo revolucionado completamente a música portuguesa.
Surgiu quase em paralelo com o "boom" do rock português, no começo da década de oitenta, mas teve o cuidado de mostrar que estava noutra onda, salientando que as suas influências iam de Braga a Nova Iorque...
Com uma presença e um estilo muito pessoal, na forma de cantar, de vestir e de se movimentar nos palcos, deixou-nos canções extraordinárias como: "É P'rá Amanhã"; "O Corpo é que Paga"; "Canção do Engate", "Dar & Receber" ou "Anjo da Guarda".
Foi uma pena ter desaparecido cedo demais...

sábado, dezembro 01, 2007

Dia da Independência


Hoje é o dia certo para dizer a José Saramago, que a resposta para o seu "iberismo" foi dada há exactamente 367 anos, pelos muitos portugueses que sairam à rua e dizeram basta, aos sessenta anos de domínio castelhano, com o reinado dos Filipes, e proclamaram a restauração da Independência Portuguesa.